Chico Alencar: Tirolesa no Pão de Açúcar?

É preciso reabrir a discussão e a análise do projeto, por sua magnitude e impacto no meio ambiente e na ambiência de um monumento natural como o Pão de Açúcar

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Rio de Janeiro (RJ), 10/04/2023 - Reprodução da simulação antes e depois do projeto de construção de uma tirolesa no Parque Bondinho Pão de Açúcar, que ligará o Morro Pão de Açúcar ao Morro da Urca. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Nas últimas semanas, a imprensa noticiou a construção de uma tirolesa de 755 metros de extensão entre os morros do Pão de Açúcar e da Urca, surpreendendo os cariocas e,
especialmente, os moradores da região. As obras já começaram, e a empresa que administra o parque promete inaugurar a atração no segundo semestre.

Com quase 400 metros de altura, a descida na tirolesa pode chegar a 100 km/h. A nova atração, contudo, tornou-se motivo de protesto de moradores e ambientalistas. Na internet, um abaixo-assinado contra a obra já conta com mais de 13, 5 mil adesões. Entre os principais problemas apresentados, estão danos ambientais e a descaracterização do patrimônio histórico.

O Pão de Açúcar é tombado pelo Iphan há 50 anos, devido à sua importância na paisagem cultural do Rio de Janeiro. Em 2012, foi reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Apesar disso, a obra da tirolesa foi aprovada pelo Iphan (?). No entanto, é evidente que um projeto como esse, dada a sua dimensão e localização, deveria ser objeto de mais debate, com participação de todas as partes interessadas. A empresa se defende dizendo que consultou a sociedade civil, mas a polêmica que a obra está gerando entre moradores, ambientalistas e cariocas, em geral, mostra que o processo de discussão foi insuficiente.

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Além da complexidade das obras na rocha, em um monumento geológico como o Morro do Pão de Açúcar, a área consiste em unidade de conservação (UC) – o Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca.

Após a implantação da tirolesa, uma segunda etapa de intervenções está prevista para o local. A proposta está sendo chamado de “modernização” das estruturas já existentes. Na verdade, o projeto aumenta em cerca de 50% a área construída no cume dos morros do Pão de Açúcar e da Urca, além da base da Praia Vermelha. Em outras palavras, para fazer tal obra será necessário a derrubada de vegetação nativa e possível descaracterização deste que é um dos principais pontos turísticos não só do Rio como de todo o Brasil.

Moradores da Urca, os principais afetados pelas obras, há muito tempo reclamam do nível de ruído e do excesso de ônibus e carros no bairro, causados pelas operações do Caminho Aéreo Pão Açúcar, já que o bairro só tem uma via de acesso. Com a instalação da tirolesa e a ampliação das instalações, o movimento deve aumentar muito, piorando o que já é ruim.

Nosso mandato já enviou ofícios ao Ministério do Meio Ambiente, ao Ministério do Turismo, à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, à Secretaria Municipal de Turismo, à GeoRio, ao Iphan, à Embratur e ao Ministério Público do RJ, apresentando questionamentos sobre o projeto.

É preciso reabrir a discussão e a análise do projeto, por sua magnitude e impacto no meio ambiente e na ambiência de um monumento natural como o Pão de Açúcar, um patrimônio que merece ser respeitado e que não pode ser descaracterizado por empreendimento de interesse comercial.

Se o projeto é tão bom, qual o problema em discuti-lo da maneira mais ampla possível? É dever do Poder Público fazê-lo de modo transparente, em respeito às cidadãs e aos cidadãos desta cidade e de todos que a visitam.

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4 COMENTÁRIOS

  1. O problema é que no Brasil muitos tentam “passar a boiada” de uma vez só. Porque dois projetos? Já que vai alterar o SÍMBOLO DO RIO DE JANEIRO, porque não basta fazer a tirolesa? Mas não, querem fazer a tirolesa e aumentar em 50% a área que já foi devastada. Não basta um boi, tem que ser a boiada. Em vez de aumentar, poderiam melhorar o que tem. Estive lá agora, a área de exposições está abandonada, até hoje não voltaram com a integralidade dos equipamentos retirados na covid. Tomamos um açaí em uma lanchonete de PÉSSIMA QUALIDADE. O acaí é um simbolo do RIo de Janeiro, tivemos que jogar metade fora. A nova área, GRANDE E MODERNA, logo na entrada, fica praticamente para uma atividade de venda de outros parques ou vendas casadas, se o interesse é atender o púlbico com equipamentos modernos, ele já está lá. A verdade que é preciso melhorar MUITO o já tem para pensar em expandir. E mais, quem acha que dá para expandir em 50% a área construída já tentou embarcar nos bondinhos de sexta à domingo? Porque se sim, certamente concordará que em vez de expandir, a questão é melhorar. O monumento em si e sua via de acesso já é um limitador natural. A tirolesa vai trazer muitos benefícios, principalmente na questão da propaganda GRATUITA da cidade, mas acho que somente esta “expansão” caberia e já estaríamos esticando um pouco a corda (literalmente).

  2. Nada a ver com a Urca e sim tudo a ver com a cidade. Nenhum carioca verdadeiro quer que se mexa num morro tombado. Chega de intervenções nas paisagens do Rio. Cada um quer ganhar seu dinheirinho esculhambando a cidade. Cuidado com a opinião dos “cariocas” de mentira, e oportunistas

  3. Nunca vi tamanha desinformação, moro na Av Pasteur, a rua que leva para a Praia Vermelha e o Pao de Açúcar, QUALQUER material de obra e apoio para os Bondinhos chega por essa Avenida e NÃO entra nas ruas estreitas da Urca pois só existe um caminho para o topo dos morros. Olhem as fotos do antes e depois da tirolesa, não dá pra perceber nenhuma diferença! Essas pessoas contra esse empreendimento devem no mínimo estar com inveja. Serei o primeiro da fila para usar. Zero dano ambiental ou estético, procurem outra coisa para brigar.

    • Também não entendo esta parte…. Podem ser contra por questões ambientais, etc…mas é como você disse, para ir ao Pão de Açúcar nem se entra na Urca!

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