Chico Alencar: Vontade de alegria, ânsia de rebeldia!

O colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre as possibilidades e histórias do Carnaval

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Vem de longe. O entrudo, na sociedade da dominação escravizante, era um “desabafo”, um jogar de água e farinha para incomodar os bem instalados, um grito de alegria às vésperas da longa e tristonha Quaresma – continuação das mortificações da vida cotidiana.

Vem de longe e de múltiplas origens. O sapateiro português José Paredes virou “Zé Pereira” e, na capital do Império, lá por 1850, saiu batendo bumbo pelas ruas do Rio, seguido por gente feliz e irreverente, com apitos, gaitas e latas: “Viva o Zé Pereira/ que a ninguém faz mal/ viva a brincadeira dos dias de Carnaval!” Para a elite aristocrata fazia… Como suportar aquela alegria?

Nas capitais do Nordeste, em especial no Recife, bandas tocavam marchas militares mais aceleradas e faziam o povo ferver: frevo! Haja pernas ágeis, haja bonecos gigantes balançando!

Batuques na senzala, na cozinha, mesmo que “sinhá não quisesse”, prenunciavam as eletrizantes baterias das escolas de samba – que cada vez mais, em seus enredos e apoteóticos espetáculos, ensinam a resistência, o olhar crítico, a liberdade: “Brasil chegou a vez/ de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês!”

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Aldir Blanc (que falta faz!) e Moacyr Luz assinalaram, em “Vitória da Ilusão” (salve Beth Carvalho, voz imorredoura!): “Carnaval missa campal do povo brasileiro/ onde a hóstia sagrada é o pandeiro/ (…) Carnaval anormal: o menino é a menina/ e o doutor juiz, a bailarina (…) O carnavalesco é um deus maldito/ e isso é que é bonito: recriar a criação! (…)/ Das cinzas à Ressurreição!”.

Já escuto, nostálgico, as marchinhas sempre vivas (entoadas por mães e avós), indagando à jardineira “por que estás tão triste”, lembrando da linda pastora, “morena da cor de Madalena”, reparando em “tanto riso, quanta alegria”, e nos pierrôs apaixonados que somos todos, nas colombinas que fantasiamos, nas mil e uma noite dos mascarados que pretendíamos viver nos poucos dias da folia.

Mano Caetano, baiano do mundo, sabe: “o Carnaval é uma invenção do diabo, que Deus abençoou!”.

Tem pra todo gosto: pra quem quer silenciar, descansar, se recolher. Pra quem quer festejar, cantar, celebrar a vida com estridência, encontrando-se de corpo e alma após o afastamento (necessário) exigido pela pandemia tão letal.

Aproveite esses dias (em latim, “carpe diem”)!

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