Em tempos onde o significado da palavra ‘mito’ tomou rumos escabrosos no Brasil, Bohemian Rhapsody chega para nos lembrar de quem realmente nasceu para fazer história no mundo. Centralizado na figura de Freddie Mercury, interpretado pelo (agora) ótimo Rami Malek, o longa estreou na última quinta-feira (1/11) e promete arrebatar uma multidão de fãs aos cinemas brasileiros. Com trilha sonora marcante, como era de se esperar, e uma atuação digna de arrepios eletrizantes na cadeira, o filme vai agradar aos que chegam sedentos para ouvir boa música.
Digo isso porque o roteiro tem falhas. Falhas escabrosas como a falta de encadeamento dos acontecimentos e pouca clareza em relações fundamentais como a de Freddie com a ex-noiva Mary Austin, interpretada pela bela Lucy Boynton. O público só toma ciência de que ela foi a inspiração de ‘Love of my life’ porque é dito. A relação com a banda também é fria e distante, e isso é curioso, pois foram o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor produtores do filme. Seria esse o olhar dos rapazes em relação a Freddie e ao Queen ou apenas uma falha de direção? Uma coisa é certa: o filme acerta ao mostrar a importância dos demais membros na construção da banda e dar o espaço, merecidamente justo, aos outros integrantes.
Ainda assim Bohemian Rhapsody será, e já é, um sucesso. Porque, exceto esses detalhes técnicos e nuances que certamente passarão batido ao público no geral, o longa empolga e alterna cenas de drama, comédia e performances de tirar o fôlego. Podia ser mais intimista, no estilo de narrativa de filme independente, mas trata-se do Queen. Trata-se de Freddie. Talvez nenhuma direção conseguisse magnitude suficiente para chegar aos pés do que eles, de fato, representaram para toda uma geração. Para ter uma ideia, até a banda Pink Floyd, uma gigante no meio musical, torna-se pequenina perto da banda formada pelos 4 caras esquisitões do colegial na cena do embate com o primeiro produtor da banda.
Com personalidade muito a frente do próprio tempo, vale a pena pensar em um filme voltado somente para Freddie, que consegue agregar, em um só personagem centenas de outros personagens. Sua instabilidade emocional, seu cavalheirismo e polidez que alternava com explosões de arrogância e mau humor, sua sexualidade, suas relações familiares, seu noivado com Mary e por fim, sua vida a dois com Jim Hutton, com quem passou o final de sua vida e cujo personagem virou mero coadjuvante no filme, valem a pena serem explorados. Os fãs merecem e o mundo também. Por aqui andamos carecidos de lembranças de pessoas que foram realmente geniais no que faziam. Carregar a alcunha de mito é para poucos. Bem poucos.
Ficha Técnica
Elenco: Rami Malek, Lucy Boynton, Gwilym Lee, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Aidan Gillen, Tom Hollander, Mike Myers, Aaron McCusker, Dermot Murphy
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Anthony McCarten
Produção: Jim Beach, Graham King, Brian May, Peter Oberth, Bryan Singer, Roger Taylor, Robert De Niro
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