A palavra dignidade tem no seu radical ígneo, ferro. Qualidade que se atribui aos corajosos, aos nobres. Linha mestra dos samurais que se suicidam quando aparece a mínima possibilidade de não cumprirem o que lhes é predestinado. Dignidade, escrita por Ignasi Vidal e dirigida por Daniel Dias da Silva, usa uma amizade aparentemente inquebrantável entre dois homens que exercem sua carreira , desde jovens, na liderança política.
Ignasi Vidal, o autor espanhol, consagra-se como ator principal, na tradição dos contemporâneos musicais na Espanha. A partir de 2015, alcança novos patamares como dramaturgo com os textos O Plano e Dignidade que são representados em vários países. Elogiado pela crítica, o autor catalão também produz textos online, narrativos e dramatúrgicos.
O primeiro ponto que se percebe em Dignidade é o belo aproveitamento da arena onde transcorre o espetáculo. O cenário com inspiração de Bauhaus, a escola alemã que inventou a estética moderna e ainda atualíssima, é um jogo de xadrez super dimensionado pelo qual, com a excelente marcação criativa de Daniel Dias da Silva, Thelmo Fernandes e Claudio Gabriel se movimentam em um embate exclusivamente verbal que ressalta a qualidade do texto, com uma interpretação primorosa, raramente presenciada.
As questões pessoais, éticas, profissionais se misturam em uma rede em que cada peixe que se pesca está podre e ainda assim não pode ser descartado. O que mostra a força do texto é como Thelmo e Claudio fazem o jogo de poder e de como tocados por situações de superioridade não abrem mão de nada, da forma como veem o mundo e egoisticamente se agarram a ela, não importando tantos anos de companheirismo. Em um momento, falam que quem toma café sem açúcar não tem dignidade. Um reflexão fundamental para os tempos em que vivemos que vai além do político, pois integra o cotidiano, quando o cheque mate é que todos tomam café sem açúcar.
- SERVIÇO:
- Teatro de Arena do Sesc Copacabana
- Quinta a Domingo às 20 h