Claudia Chaves: Homens Pink – La vie en rose

Em Homens Pink, Renato Turnes, da Cia La Vaca, dirige, escreve e protagoniza a performance documental em que celebra o orgulho da ancestralidade LGBTQIA+

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Homens Pink - Foto: Guto Muniz

Ainda que os tempos tenham clareado, homofobia seja crime, o Brasil continua sendo o país com o maior índice de assassinatos  e atos de violência contra trans, homossexuais. A tragédia nacional também passa pelo bullying, pela rejeição, inclusive de parentes próximos, pelos personagens rasteiros na indústria do entretenimento.

Em Homens Pink, Renato Turnes , da Cia La Vaca, dirige, escreve e protagoniza a performance documental em que celebra o orgulho da ancestralidade LGBTQIA+. O espetáculo foi criado a partir de depoimentos de homens gays idosos. As recordações pessoais do ator se fundem a lembranças emprestadas sobre a infância, o sexo, o fervo, a epidemia da AIDS e a luta dos pioneiros para celebrar o orgulho da ancestralidade LGBTQIA+.

Homens Pink se origina há cinco anos, num documentário via Rumos Itaú Cultural 2017/20218. É quando Renato Turnes começa a entrevistar 9 homens gays acima de 60 anos que, numa conversa franca, divertida, com vários momentos da vida política e histórica do Brasil, também falam sobre infância, sexualidade e a vida na maturidade. Há também reflexões sobre a AIDS, que todos foram testemunhas, mostrando como os homens gays sobreviveram ao vírus HIV e também ao  estigma da sociedade.

Em paralelo à temporada no Rio, a Companhia disponibiliza o filme documentário gratuitamente em seu canal do Youtube (cialavaca), com versões acessíveis em LIBRAS e Audiodescrição. A ideia é que o público possa conhecer os “Homens Pink” e expandir a própria experiência. Em 2020 e 2021 foi exibido em festivais online por causa da pandemia. Um dos festivais foi em Bangkok, na Tailândia. O doc conquistou Prêmio Especial do Júri no DIGO – Festival Internacional de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero – 2020 e o Prêmio de Melhor Média Metragem no Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Filmes de Arquivo 2020.

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Primeiramente, há que se aplaudir a forma de dramaturgia escolhida. Apresentada como escrita de si, Renato encarna  como se fosse um  só personagem, que conta suas histórias, os dramas, as rejeições, mas também a forte sororidade, o amor, a amizade, as acolhidas e muitas alegrias. O texto em si  é exatamente como os homossexuais costumavam conversar nos  passado. O uso do feminino, as  nomeações, a ironia e o deboche escrachado fazem parte do texto. Mas nada disso choca, pois a construção é apenas para ressaltar a proposta.

A atuação de Renato é impecável, com o diálogo formado pelas próprias situações e a maneira que  ele opta para introduzir e dar vida aos outros personagens que circulam e fazem parte das historias. Com poucas peças de figurino: um par de escarpin preto, um blazer com prateados, um simulacro de turbante e um vestido daqueles que a gente tem vontade de vestir de tão lingo e chique.

As imagens na tela também são um elemento das lembranças de como o mundo “subterrâneo” e aparente ao mesmo tempo. O drama do HIV está lá, assim como estão as alegrias das festas, dos encontros, das fantasias,  do carnaval. O grande mérito é que nem na atuação e muito menos nas histórias há culpa, arrependimento, negação.

Homens Pink é uma afirmação, um Yes, we can,   de uma forma leve, com muitos sorrisos , até gargalhadas daquilo que dificilmente se pensa como as pessoas podem sobreviver. Renato nos aponta que a arte  pode ser um caminho importante para contar e impactar. Positivamente. Da mesma maneira que fala da beleza e da importância dessa característica para os personagens, Renato consegue nos mostrar que, apesar de todos os percalços, a vida cor de rosa existe.

  • Serviço:
  • Sesc  Copacabana
  • Sexta, sábado e domingo às 19 horas

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Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.
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