Claudia Chaves: Meu corpo está aqui – O corpo que habito

Peça Meu Corpo Está Aqui trata de um tema ainda difícil para ser ver no cotidiano e ainda, raro, nos palcos: relacionamentos, corpos e desejos de pessoas com deficiência

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Foto: Renato Mangolin

As artes performáticas, teatro, dança, música, permitem uma experiência única. Ver-se ao vivo, em cores, uma realidade que se desenvolve, por um determinado por um tempo, com a presença de pessoas. Assim, homem jovem pode fazer papel de idoso, mulheres podem representar papéis masculinos, ou mesmo aparecer sem qualquer caracterização, fazendo-nos ver o personagem que interpretam. Essa magia está presente, de forma intensa, em Meu Corpo Está Aqui.

A peça trata, com absoluta delicadeza e talento, de um tema ainda difícil para ser ver no cotidiano e ainda, raro, nos palcos. Baseado nas experiências pessoais de Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes, atrizes e atores PCDs (pessoas com deficiência), em que eles próprios estão em cena falando abertamente sobre seus relacionamentos, seus corpos, seus desejos.

O trabalho de texto e direção de Julia Spadaccini, também pessoa com deficiência, e Clara Kutner é de uma exatidão cirúrgica. Puxam, em apenas um gesto, o esparadrapo que cobre aquilo que a sociedade recusa ver. Dessa forma, os 4 atores transitam com total competência pelo palco que ocupam, sem pedir qualquer licença, para contar os episódios e vivências.

No elenco, Bruno Ramos é surdo não oralizado, Haonê Thinar é pessoa amputada, Juliana Caldas tem nanismo e Pedro Fernandes tem paralisia cerebral com cognitivo preservado e é usuário de cadeira de rodas. Sem qualquer vitimização, muito, pelo contrário, contam as histórias de forma contundente, direto ao ponto. E lá estar o humor inteligente, sobretudo quando falam dos outros, pois o  mote maior é a sua capacidade de desejar e exercer o desejo sem limitações.

E no ato da performance que exercem a cidadania a que têm direito, com  excelentes atuações que abrangem aquilo que é peculiar ao humano: sou amado, sou aceito, sou rejeitado, o que posso me permitir. O que vemos no palco é aquilo que poderia ser considerado pesadelo virar sonho, devaneio, imaginação, afeto e prazer. Como todos nós queremos e merecemos.

  • Servic?o
  • Teatro Gláucio Gill
  • Sábados e segundas às 20h e domingos às 19h

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Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.

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