Um dos maiores dramaturgos do século passado, o francês Jean Cocteau, dizia que “Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.” Uma mulher de meia idade, engolfada pelo inusitado da pandemia, surpreendida e confusa com a chegada da “adultice” está só, apenas com sua insônia. É dessa matéria que Luciana Fregolente idealizou, escreveu e protagoniza o monólogo “Na medida do impossível”.
Na pequena mistura de arena e palco italiano do Candido Mendes, Luciana aparece com um ótimo figurino, um pijama vermelho, e na mistura do cômico com o sério, da perplexidade com a reflexão, da emoção com a razão, Luciana compõe, com muita eficiência um arquétipo: essa mulher que trabalha, cuida da casa, é mãe, mantém o relacionamento com o marido e se aborrece, e muito, por se ver obrigada a viver a vida dos outros e ter abandonado a sua.
A direção do experimentado Victor Garcia Peralta ressalta as boas características de Luciana como atriz. A movimentação do palco é natural e acaba por não ser algo contido no pequeno espaço. Ao contrário, a delimitação do cenário com uma geladeira vermelho não se torna um empecilho. Essa ganha proeminência ao se tornar coadjuvante das ações e do texto. Luciana joga com o comer, não comer, abrir e fechar a porta, o que se torna a perfeita metáfora do que a personagem expressa.
Luciana constrói uma texto com dois procedimentos que levam a engajar a platéia à peça. A personagem é uma tradutora e que conversa com um fantasma, um amigo morto há tempos, que ela apresenta ora como confessor, ora como alter-ego. Do monólogo que vira um diálogo, Luciana vai extraindo emoção e empatia.
A escrita de si, como um procedimento que caracteriza a narrativa em que um narrador em primeira pessoa se identifica explicitamente como o autor biográfico, mas vive situações que podem ser ficcionais, foi a opção de Luciana. Mas ao contrário do que muito se vê, ela excede a sua própria história. Transforma as suas dúvidas em diálogo. Os tropeços do cotidiano em humor. Luciana mostra que viver é melhor do que sonhar.
Serviço:
Cândido Mendes
Sexta e Sábado às 22h