Retratar uma biografia, fazer monólogo que conte uma história, quando a maioria do gênero trata de fluxos de consciência. Pensamentos esparsos, opinião, apresentação de sentimentos. Quando se encontra uma peça na qual um só artista encarna um personagem famoso e com uma imagem, muitas vezes, caricata e ao mesmo tempo consegue apresentar sentidos, conflitos, mensagem política é muito raro. Em Pedro I o equilíbrio é alcançado com um ótimo resultado.
Pedro I nasce da inquietação de João Campany que junta-se a Daniel Herz, diretor e também co-autor para fazer um texto que mistura elementos históricos e fictícios para se pensar o legado do Imperador, mas também pensar como se vê o Brasil nos 200 anos de Independência e como esse país funciona na atualidade. A dramaturgia , da qual também participa Roberta Brisson, é capaz de apontar o Brasil de hoje em sua gênese em 1822.
A direção de Daniel Herz constrói o personagem com todas as suas tintas. Intempestivo, apaixonado, sangue quente. Os atos impulsivos, a postura machista, a corrupção fazem parte do texto, mas também está na movimentação de João na arena do pequeno teatro e em como ele cresce, nos momentos corretos, sem qualquer exagero e na medida do que deve tornar o personagem forte , hesitante, fraco. Mas grandioso.
O texto tem influências do teatro de Luigi Pirandello e Bertold Brecht, absurdo, acidez e engajamento em que se centra o conflito principal: O drama acompanha a tentativa delirante de Dom Pedro retomar o poder em 2022. No processo, ele enfrenta um artista que questiona os seus valores e sua conduta em relação ao trono. Porém, este embate não é fácil. Dom Pedro é autoritário e o ator não pretende permitir que seu corpo seja veículo para este governante de caráter e conduta duvidosas. E na dupla articulação, do texto e da atuação, que percebemos a benfazeja atualidade do espetáculo.
- SERVIÇO:
- Casa de Cultura Laura Alvim
Sextas-feiras e Sábados às 19h
Domingos às 18h