Claudia Chaves: Uma Mulher ao Sol

A peça Uma Mulher ao Sol expõe o fluxo de consciência da escritora Maura Lopes Cançado

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Foto: Dalton Valerio

Doido. Maluco.Palerma. Zonzo. Tantã. Boboca. Descabeçado. Pancada. Desmiolado. Espinoteado. Zureta. Avoado. Alucinado. Delirante. Desvairado. Alucinado. Inconsequente.  São muitos  os termos para designar os portadores de doença mental. Todos condenatórios. Sem qualquer compaixão. A peça Uma Mulher ao Sol desafia e desfaz todos esses conceitos. Ao expor o fluxo de consciência da escritora Maura Lopes Cançado , que viveu em um verdadeiro entra e sai das instituições, Projeto Trajetórias (formado pelo diretor Ivan Sugahara e pela atriz Danielle Oliveira) constrói um bordado filigranado. Ouro e pedras das mais preciosas.

O primeiro acerto é ter a voz em off enquanto as duas atrizes – Daniela e Maria Augusta ,- com  movimentos corporais que  traduzem, literalmente o que se diz. A criação dos chamados significantes, imagens visuais para os termos simbólicos, faz que a direção e a organização dramatúrgica de Ivan só possa merecer uma palavra: estupenda. São mais de 40 pequenas cenas, todas diferentes, todas usando localização no palco diversa, dialogando com os objetos, com os figurinos e entre os dois corpos há absoluta sintonia.

A narrativa, apesar de descreverem os horrores das condições, não possuem qualquer palavra negativa, ódio. A voz é quase monocórdica, as palavras bem pronunciadas, com as inflexões leves. Enquanto isso, a expressão corporal de Daniela, dançarina e de Maria Augusta, mímica, recuperam o elemento cênico-dramatúrgico  do corpo como interpretação e criação de significado.

É um encontro perfeito: um pas-de-deux de pessoas, mas que nos lembram duas bonecas com manipulação de um interventor, o diretor que de forma sensível é capaz de avançar em todas as formas de dizer. E a trilha é um capítulo fundamental. Com canções populares, músicas especialmente criadas, Uma Mulher ao Sol é para se ver  algumas vezes. Exatamente como fazemos quando temos um quadro favorito, um livro de cabeceira, uma canção que repetimos. Essa é a maior função da obra de arte.

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  • Serviço:
  • Teatro Poeirinha
  • Quinta a sábado, às 21h
  • Domingo, às 19h.

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lapa dos mercadores 2024 Claudia Chaves: Uma Mulher ao Sol
Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.
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