Se Carlos Drummond de Andrade pudesse refazer a poesia “A Pedra” no Rio de Janeiro de hoje, certamente seria a versão “No meio do caminho tinha um poste”: seja pelo histórico militar, que saíram enchendo o subúrbio de postes sem respeitar calçadas à beira da linha do trem ou pelo advento da tecnologia, com abertura de mercado no setor de comunicação, são mais operadoras que precisam de postes, eles estão ali, como no poema, no meio do caminho.
Na lista, entra até cartões postais como a orla carioca e belezas arquitetônicas como Rio Antigo estão entupidas da estrutura e fiação exposta. “Não existe um critério e saem colocando postes, um em cima dos outros, enfeiando a cidade. Parece que retrocedemos, pois na época do Rio Cidade, tínhamos mais harmonização, que foi deixada de lado. Sequer temos um órgão responsável na Prefeitura sobre esta estética”, ressalta o arquiteto e urbanista Washington Fajardo.
Segundo Fajardo, é comum ver desleixo como, ao colocar um poste novo, não retirar o antigo, como também encher de placas de não estacione em locais públicos. “Estes dois exemplos são vistos em Ipanema e no Centro, mas estão comuns na cidade inteira. Temos uns 12 postes na Tiradentes, por exemplo. Tem que ter zelo. O posteamento é agressivo”, completa o urbanista, que foi secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio até meados do ano passado.
Em bairros do Grande Méier, é comum ter um poste que só deixa o meio-fio para o pedestre trafegar, ainda mais com cadeira de rodas ou carrinho de bebê. “Aos poucos, a Prefeitura e a Secretaria têm um olhar para isso, mas a topografia não colabora”, lamenta a secretária de Pessoa com Deficiência, Helena Werneck.
Questionada, a assessoria da Rioluz disse que o serviço fica por conta da Secretaria Municipal de Conservação, que diz que é com a Rioluz. A assessoria da Prefeitura do Rio também foi procurada, mas não respondeu diretamente à questão.