A Ilha Grande, em Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro, foi reconhecida como Área de Importância para a Conservação dos Morcegos (Aicom) pela Rede Latino-americana e do Caribe para Conservação dos Morcegos (Relcom). A certificação internacional visa proteger espécies ameaçadas ou não, por meio da criação de áreas de relevância ecológica para esses animais.
O reconhecimento resulta do trabalho de pesquisadores do Laboratório de Ecologia de Mamíferos (Lema) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com base no Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads), instalado na ilha desde 1995.
Segundo a Relcom, são considerados critérios para a certificação: a presença de espécies de interesse para conservação, áreas de refúgio e a alta diversidade de espécies, independentemente do grau de ameaça.
Com 37 espécies registradas, a Ilha Grande abriga quase 20% de todas as espécies conhecidas no Brasil. A região também reúne 37,8% das espécies da Mata Atlântica e 46,8% das conhecidas no estado do Rio de Janeiro. Os morcegos desempenham papéis essenciais no equilíbrio ecológico, como dispersão de sementes, polinização e controle de insetos.
Entre as espécies de destaque na ilha estão a Furipterus horrens, classificada como vulnerável na lista brasileira de espécies ameaçadas; a Lonchophylla peracchii, nativa da Mata Atlântica; as endêmicas Myotis nigricans e Myotis izecksohni; além da Tonatia bidens, listada como “deficiente de dados” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Além das pesquisas, o Lema atua em parceria com o Projeto Morcegos na Praça, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), promovendo atividades de educação ambiental e esclarecimento sobre o papel dos morcegos na natureza e na saúde pública, reforçando a importância da ciência junto à comunidade local.
As atividades da Uerj na Ilha Grande começaram após a desativação do Instituto Penal Cândido Mendes, na Vila Dois Rios, em 1994. Desde então, a universidade mantém um centro de pesquisa e um museu voltados ao inventário e à preservação da biodiversidade, bem como à valorização da memória local.
A área pertence integralmente ao Parque Estadual da Ilha Grande, considerado um dos corredores ecológicos mais relevantes do planeta. Todos os anos, centenas de estudantes, técnicos e cientistas realizam estudos sobre fauna, flora, geologia e clima, contribuindo para o avanço do conhecimento sobre os ecossistemas da região.