Concessionária do Cemitério do Caju destrói patrimônio histórico: “combate à dengue”

Destruídos pela administração do cemitério do Caju, túmulos em mármore com vasos e urnas se tornam pilhas de cacos, em meio ao aparente desprezo da concessionária pelo patrimônio histórico

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Na imagem, a barbárie contra a arte cemiterial da cidade, com vários vasos quebrados

A alta de casos de dengue no Rio de Janeiro deixou cariocas e fluminenses em estado de alerta. Autoridades públicas, estaduais e municipais, montam estratégias para salvaguardar a saúde da população e evitar mais contaminações ou mortes. Ações contundentes são importantes neste tipo de cenário. Mas a razoabilidade – assim como a lei – devem nortear as atitudes a serem tomadas.

No cemitério do Caju, na Zona Portuária da cidade, um verdadeiro descalabro foi posto em prática para supostamente evitar a proliferação do mosquito transmissor da doença, o Aedes Aegypti. Os responsáveis pela concessão do cemitério decidiram destruir todos os vasos em mármore dos túmulos e, mausoléus, sem levar em consideração a época que os objetos foram confeccionados, e a sua importância histórica. “Nunca ouviram falar em encher de areia ou manter um dreno”, se impressiona Marconi Andrade, da SOS Patrimônio: “isto é uma insanidade absurda, estes vasos são trabalhos de artesanato de valor inestimável. Tanto que em cemitérios paulistas viviam sendo roubados até mesmo por celebridades. Isso é um absurdo, estou perplexo”, diz.

Não é preciso ressaltar que a atitude é uma atentado cometido contra o patrimônio cemiterial da cidade, com o argumento de que os vasos são criatórios de mosquito. Além da falta de respeito aos mortos e às suas famílias – que pagaram pelos jazigos e sua decoração, há ainda a questão do prejuízo financeiro, uma que vez que as peças, reduzidas a pequenos cacos, eram todas feitas em mármore, portanto, peças caras. “É o tipo de desmando que impera desde que a Santa Casa da Misericórdia foi apeada do cuidado com os cemitérios da cidade”, diz Ricardo Netto, que visitava um túmulo de um parente.

Providências para que a epidemia de dengue não se alastre ainda mais pelo Rio de Janeiro devem ser tomadas, mas com racionalidade e respeito ao patrimônio histórico carioca. A colocação de areia nos vasos dos cemitérios já teria resolvido o problema. É preciso valorizar a arte cemiterial das necrópoles da cidade, como destaca o arquiteto e urbanista Manoel Vieira:

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“É inacreditável. Há partes desse conjunto cemiterial que possuem quase 200 anos. Em 1839, por razões higienistas, houve a transferência do cemitério do Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia, que era localizado em área lateral à Igreja de Bonsucesso, no Largo da Misericórdia (Centro do Rio), para a Ponta do Caju. Era onde os escravizados eram sepultados. Em 18 de outubro de 1851, foi inaugurada a necrópole de São Francisco Xavier, com o sepultamento da criança Vitória, filha de uma escravizada. A Santa Casa detinha a concessão dos serviços funerários pelo Governo Imperial desde a criação do Cemitério e não me lembro de nada parecido a isso ocorrer. Há cerca de dez anos está com outra gestão e os adornos da necrópole que ajudam a contar a história da arte e da cidade agora foram destruídos. Niterói reduziu em 70% os casos de dengue com tecnologia 100% nacional (FIOCRUZ) e sem destruir nada. É uma barbaridade enorme e o combate à dengue de forma alguma justifica um ato de tamanha ignorância”, disse Manoel Vieira, que é ex-superintendente do  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Vasos quebrados editado Concessionária do Cemitério do Caju destrói patrimônio histórico: “combate à dengue”

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5 COMENTÁRIOS

  1. Um descaso total,saiu da Santa Casa e foi para uma concessionária que só sabe fazer cobranças indevidas,além de cobrar altos valores e ainda querem obrigar aos familiares trocarem á titularidade o que não é obrigatório.Todos deveriam colocar á concessionária na Justiça pelo dano causado ás sepulturas de suas famílias.

  2. Destruíram patrimônios, jogaram tudo formando um escombro, agora vai ficar por ali formando mais um aparato pra mosquito. O terreno do cemitério é gigantesco, a solução é simples se essa gente, “administradores”, raciocinassem. Cada uma viu..

  3. O mosquito passa a vida no local onde nasceu, apenas voam até 200 metros.

    O cemitério possui dezena de milhares de quilômetros quadrados. Não deveria se preocupar com mosquitos nesses vasos. Até porque, a céu aberto, recebendo influências de sol e correntes de ar a água no vaso nem deve durar 10 dias necessários para o ciclo de vida do mosquito.

    De qualquer forma, medidas alternativas como fazer um furo no caso seria menos pior que destruí-lo.

    • Á concessionária deveria ressarcir todas ás famílias pelo dano causado,isso é caso de polícia e justiça..Minha família também tem jazigo neste cemitério.

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