Um projeto inovador de naturalização está mudando as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, combatendo os alagamentos que assolavam a região durante períodos de chuva intensa. Idealizado pela Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Rio-Águas e a coordenação técnica dos especialistas Mário Moscatelli, biólogo, e sua filha Carolina Moscatelli, paisagista, o projeto completou um ano com resultados impressionantes.
Antes um dos locais mais afetados por bolsões de água em dias de tempestade, especialmente ao longo das Avenidas Borges de Medeiros e Epitácio Pessoa, o local agora passa por um processo de naturalização que já devolveu uma significativa área à lagoa. No trecho inicialmente revitalizado, próximo ao Parque do Cantagalo, mais de 1.500 metros quadrados foram transformados, permitindo o retorno do crescimento natural da Lagoa após décadas de aterramento.
Redução da Lagoa
Desde 1870, quando começaram os aterramentos, a Lagoa Rodrigo de Freitas viu sua área original reduzida pela metade, passando de aproximadamente 4,2 para 2,3 quilômetros quadrados. Como resultado, toda a vegetação nas margens foi completamente removida, levando a uma redução significativa da fauna nativa na região. Em 1922, a Repartição de Saneamento das Zonas Rurais apresentou um projeto para “sanear e embelezar a Capital para as festas do Centenário da Independência”, na proposta de renovar as águas da lagoa. Esse projeto envolveu a abertura de um canal por meio de dragagem, profundando a barra para reconectar a lagoa ao mar. A terra retirada do canal foi usada para criar a Ilha dos Caiçaras, hoje sede de um clube.
Outros aterramentos ocorreram entre os anos 1940, 1950 e 1960. Morros como o da Praia do Pinto foram ocupados às suas margens, abrigando favelas com até 50.000 moradores por muitos anos. Devido ao risco de desabamento dos barracos e a especulação imobiliária, o governo, após mais de duas décadas de ocupação, realocou todos os moradores e nivelou os morros, aterrando grande parte da área. Os antigos moradores foram transferidos para conjuntos habitacionais no subúrbio, enquanto prédios de apartamentos e parques foram construídos no local dos morros. Com o tempo, outros espaços deram origem ao Jockey Club Brasileiro, ao Jardim de Alah e à sede do Clube Naval na Ilha do Piraquê.
Cidade Esponja
A iniciativa agora não se limita apenas à desobstrução da ciclovia e à reintegração de áreas alagadas ao corpo hídrico. O projeto adota o conceito de “Cidades Esponja”, que utiliza soluções baseadas na natureza para melhorar a resiliência urbana contra alagamentos. A reintrodução de espécies nativas de flora, como grama de mangue, samambaia do brejo e algodoeiro de praia, tem promovido uma explosão de biodiversidade na região.
Recentemente, mais de 50 caranguejos-guaiamuns, espécie ameaçada de extinção, foram soltos na Lagoa, juntamente com o plantio de mudas de Clusia, contribuindo para o enriquecimento do ecossistema local. Além de ser um habitat vital para diversas espécies de fauna, como capivaras, colhereiros e aves aquáticas, a área naturalizada se tornou um ponto de educação ambiental com placas informativas que explicam a importância das intervenções realizadas.
O sucesso do projeto inicial incentivou a expansão: a Fundação Rio-Águas está em processo de licitação para revitalizar um segundo trecho próximo ao Parque dos Patins, devolvendo mais 485 metros quadrados à Lagoa. A expectativa é que essas ações não apenas acabem com os impactos das chuvas, mas também promovam um ambiente urbano mais sustentável e resiliente.
“O projeto de naturalização, que completa um ano, é um pequeno fragmento daquilo que foi tomado da Lagoa ao longo dos anos. Rapidamente já mostra em sua exuberância vegetal e animal o quanto os processos naturais, quando não contrariados, podem colaborar decisivamente para a qualidade ambiental das demais espécies e da vida humana. Sem a necessidade de megainvestimentos, mas unindo a colaboração do poder público e da iniciativa privada, é possível resolver de forma eficiente em termos ambientais. Esse é o caminho. Se o caminho não for seguido será necessário pagar um preço alto em termos financeiros e de vidas humanas” explicou Moscatelli, coordenador-técnico do projeto, biólogo, mestre em ecologia e especialista em gestão e recuperação de ecossistemas costeiros.
Que notícia maravilhosa! Que essa área possa se extender e recuperar áreas originais da Lagoa e sirva de inspiração pra outras lagoas no Rio, Brazil e países!!
Muito legal !!!! Espero q haja um projeto semelhante em todos os rios q alimentam as lagoas de Jacarepaguá e Tijuca aliado a uma nova urbanização e sanemanento nas comunidades de Rio das Pedras, canal do Anil, Cidade de Deus, e em lugares de Curicica, Taquara, Anil e Freguesia q poluem os rios!