Conheça a técnica milenar criada no Egito usada em reforma do prédio que sedia o Iphan-RJ

Obras no histórico Edifício Docas de Santos, na Avenida Rio Branco, chegaram à etapa conhecida como douramento a óleo

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Restauro do Edifício Docas de Santos, sede do Iphan-RJ - Foto: Daniela Reis

As obras do histórico Edifício Docas de Santos, na Avenida Rio Branco, que abriga a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro, chegaram à etapa central na recuperação dos bens culturais do prédio: o douramento.

Desde dezembro de 2019, o imóvel, também conhecido como RB46, passa pela maior restauração de seus 115 anos de existência. As obras são executadas pelo próprio Iphan, autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura. O Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), investe R$ 13 milhões nas intervenções.

A técnica aplicada na obra é conhecida como douramento a óleo. O mordente é a substância oleosa que serve como cola para os fragmentos de ouro. Antes de aplicar, os restauradores esfregam o pincel polonesa na pele do braço ou no cabelo para criar eletrostática e poder capturar a folha de ouro antes da aplicação.

”O douramento acontece nos frisos dos forros, no hall de entrada: folhas de ouro são aplicadas sobre os objetos para dar aparência de ouro maciço. Trata-se de uma técnica milenar inventada no antigo Egito. Na época, os egípcios batiam os lingotes de ouro manualmente até transformá-los em finas folhas. Hoje, o processo de obtenção continua o mesmo e podemos adquiri-las em cadernos de 25 folhas”, explica Cláudia Nunes, conservadora e restauradora de bens culturais do Iphan.

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Outra melhoria é a conservação da fachada, já concluída. Foi resgatado o tom ocre da edificação, há décadas escurecida pela fuligem. Arquiteta do Iphan e especialista em pedras, Catherine Gallois explica: ”O projeto da fachada foi bastante detalhado e muito bem documentado. É uma obra de arte que se deteriora rápido, então precisa de monitoramento contínuo. Tudo foi feito com fundamento científico: houve uma simbiose entre o Iphan e o Centro de Tecnologia Mineral [Cetem], que é uma unidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação”.

As intervenções incluem o restauro dos bens móveis integrados, da cobertura e de esquadrias, pisos e paredes. Contemplam ainda as adaptações para tornar os ambientes acessíveis, renovar a rede elétrica e implementar um sistema de segurança com circuito fechado de TV.

”Destaca-se nessa obra também o reforço estrutural da laje do 2º pavimento, nas áreas destinadas à biblioteca e ao arquivo. Composta por perfis metálicos, lajotas cerâmicas e revestimento de tabuado, a laje foi reforçada com concreto armado, o que garantiu maior rigidez”, diz o engenheiro civil Gustavo Tavares, servidor do Instituto, explicando também a relevância da obra.

”Essa intervenção foi importante pois, além dos arquivos convencionais e estantes de livros, instalaremos no pavimento quatro arquivos deslizantes, fundamentais para abarcar o acervo do Iphan”, complementa.

História

Quando o Edifício Docas de Santos começou a ser construído, os carros eram raros na Avenida Central (como era chamada a Rio Branco antigamente) e os pedestres caminhavam pela via vestidos a rigor: homens portavam fraque e cartola, enquanto as mulheres trajavam chapéus e vestidos longos. Mais de um século depois, a moda se transformou e o fluxo de carros aumentou em grande medida. Atualmente, o RB46 testemunha a agitação urbana contemporânea e ecoa o apito do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que, com regularidade, atravessa o trecho da rua em frente ao monumento.

Inaugurado em 1908, o prédio é um dos poucos remanescentes da abertura da avenida, no início do século XX, e o último dos imóveis comerciais de porte leve. Grande parte dos materiais que dão forma às paredes, escadarias, maçanetas e aos corrimãos do imóvel partiram da Europa e atravessaram o Oceano Atlântico antes de desembarcar na costa carioca. De estilo eclético, foi projetado pelo engenheiro paulista Ramos de Azevedo e construído pela empresa Antonio Januzzi, Filho & Companhia.

Foi edificado para ser a sede da Companhia Docas de Santos, empresa que administrava o Porto de Santos. O prédio, com pisos em mármore de Carrara, é decorado com temática marítima: referência à vocação naval da companhia de propriedade dos Guinle, uma das mais abastadas famílias da época.

Os salões e os adornos a todo o momento trazem o mar para dentro da edificação. Na fachada, em cantaria e argamassa pigmentada, podem ser notadas proas de navios e gárgulas decoram os andares superiores. O minucioso trabalho de entalhe de madeira nas portas também remete às navegações. As alegorias míticas evocadas por esses elementos resgatam o período em que o comércio marítimo conduzia a exportação do café brasileiro para o mundo.

O imóvel dispõe de duas lojas no térreo dotadas de vitrines em cristal. Internamente, a estrutura é de ferro fundido, inclusive a escada que perpassa os cinco pisos e que contorna o elevador da época da inauguração. Um dos primeiros a ser instalado no Rio de Janeiro, o elevador ainda funciona e foi restaurado.

O tombamento da edificação ocorreu em 1978, com a inscrição em dois Livros do Tombo do Iphan: o Histórico e o das Belas Artes. Oito anos depois, em 1986, tornou-se sede da Fundação Pró-Memória, que, conjuntamente com o então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), deu origem ao Iphan.

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