Conselho de Arquitetura e Urbanismo tem eleição em outubro e pode trazer novidades para o Rio

A jornalista Angélica Cunha entrevista as arquitetas Leila Marques e Michelle Beatrice, candidatas ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo, na eleição deste ano

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O Conselho de Arquitetura e Urbanismo possui pouco mais de 10 anos de atuação, mas a profissão de Arquiteto e Urbanista existe formalmente no país desde a fundação da Escola Nacional de Belas Artes, na Cidade do Rio de Janeiro, no início do Século XIX. Dentre suas diversas responsabilidades, cabe ao Conselho regulamentar e fiscalizar o exercício dessa profissão altamente influente, capaz de transformar a forma e a vida de uma cidade.

No Rio, muitos arquitetos e urbanistas deixaram valiosas marcas na história da Arquitetura. Ao longo de seus mais de 4 séculos, a cidade passou por mudanças substanciais, incluindo alterações significativas em sua geografia e topografia originais. Se devemos grande parte das riquezas que conferiram ao Rio o título de Capital Mundial da Arquitetura aos Arquitetos e Urbanistas, é ao seu Conselho que podemos recorrer para obter informações em casos, que não são poucos no Rio, de construções executadas por leigos, frequentemente alheias à legislação urbana, com objetivos exploratórios.

Em uma entrevista concedida à jornalista Angélica Cunha, as arquitetas Leila Marques e Michelle Beatrice (Mica), candidatas a cargos federais e estaduais no Conselho de Arquitetura e Urbanismo, respectivamente, na eleição deste ano (em 10/10), discorrem sobre o papel de destaque desempenhado pela categoria no desenvolvimento da cidade. Além disso, elas apresentam algumas perspectivas criativas para o aprimoramento do Conselho Profissional e para a cidade em si.

Angelica:

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Eu já sei que a Leila é conselheira estadual, então, vou começar perguntando à Mica o que a trouxe para essa candidatura?

Mica:

Na verdade, eu já fui convidada a ser candidata para muita coisa. Mas nunca quis mexer com eleições parlamentares porque minha vida é Arquitetura e Urbanismo, 24 horas por dia. No VII Encontro Mica deste ano, eu convidei os amigos Sydnei Menezes (Presidente da gestão fundadora do CAU RJ) e a Leila Marques, que eu já conhecia do Instituto Niemeyer, para serem os curadores da Arena de Arquitetura e Urbanismo do meu evento. Durante os preparativos, acabei ouvindo falar muito mais do que é o CAU, como funciona, quais são suas funções maiores e suas potencialidades e enxerguei um gap crítico. Por outro lado, os amigos acabaram vendo em mim, a força empreendedora que pode ajudar o CAU a entrar na necessária e já tão falada, era da Sociedade 5.0; foi assim que acabamos, ao longo de vários debates, formando um grupo muito focado para a chapa, que tem tudo para dar certo. Já deu!

Angelica:

Leila, você tem sido exitosa nas suas candidaturas estaduais, por que essa candidatura federal agora?

Leila:

É quase um caminho natural de um amadurecimento institucional. A minha primeira candidatura foi muito mais no “susto” do que está sendo a da Mica agora. Ela já está sabendo bem o que terá de enfrentar, quais os limites e potenciais dos trabalhos dos conselheiros. No meu primeiro mandato, entrei como se tivesse passado num novo concurso público, sabe? Queria quase “bater o ponto” no CAU RJ (risos). Fui assídua e zelosa em todos os processos que assumi para dar parecer, nunca atrasei uma entrega, depurei diversos processos, levantei várias questões financeiras e, muito por conta desse meu excesso de zelo e questionamentos, acabei ganhando alguns desafetos da gestão à época. E ainda assim, sempre muito elogiada nas Plenárias. Neste meu atual segundo mandato, estou mais experiente e mais madura. Sigo responsável com meu trabalho, apesar de ver o quanto o CAU está perdendo tempo com um modelo de gestão que precisa de atualização, além de um bom banho de democracia. Esse acúmulo de conhecimento que adquiri, aliado à minha postura firme diante de divergências, me fazem sentir plenamente capaz de assumir o mandato Federal, e bem representar os arquitetos do Estado do Rio de Janeiro.

Angelica:

E o que vocês estão oferecendo de diferencial, de importante para o Rio de Janeiro, ao assumirem o Conselho?

Leila:

Importante que se diga que nós, Arquitetos e Urbanistas, somos os protagonistas de todas a intervenções dos espaços das nossas cidades. O CAU é estadual, falo, portanto, das cidades do Estado do Rio. O Conselho é o órgão que Regulamenta e Fiscaliza o trabalho desses “protagonistas”, portanto é quase que um maestro de uma “orquestra” do urbanismo, da paisagem urbana, da produção arquitetônica… Imagina a capacidade desse maestro em transformar essa orquestra, numa sinfônica, se me permite expandir a metáfora de Arthur Schopenhauer, que disse certa vez que “Arquitetura é música congelada”. Estamos oferecendo, em nossa Chapa 1, o trabalho de “maestros/ maestrinas” que sabem, podem e querem fazer o Rio “tocar ao som” de um novo (mas já consagrado) conceito de administração, baseado no modelo Sociedade 5.0. Isso não é novidade; é avanço. É inovação de verdade.

Mica:

O nosso diferencial já começa em levar para o Conselho todo o conhecimento que eu e outros membros da chapa temos de empreendedorismo, gestão de projetos, administração empresarial e aplicar, no que for cabível, obviamente sem perder de vista os ritos de um órgão público, para fazer a transição para uma gestão moderna, arrojada, que ousa tocar em assuntos importantes para a categoria. Serviço público não precisa ser sinônimo de inoperância ou acomodação. Os novos conceitos de gestão pública moderna têm muito mais pontos em comum com a iniciativa privada que se pode imaginar. O Rio de Janeiro pode esperar um Conselho participativo e opinativo em todos os grandes acontecimentos da cidade e vai fomentar muito mais. O CAU RJ não pode ficar mais anos esperando para participar de uma mesa de abertura de um evento de toda a cadeia da Construção Civil da iniciativa privada, fora do âmbito de associações, como acabou acontecendo no VII Encontro Mica deste ano! Pode imaginar essa distância entre a realidade de quem trabalha com Arquitetura, e o próprio Conselho?

Angelica:

E que história seria essa de Sociedade 5.0? É um apelo futurista para o mandato de vocês?

Mica:

Nada disso. Sociedade 5.0 daqui a pouco já será passado. O tempo está voando. Enquanto a gente conversa aqui, estão sendo produzidas tomadas wi-fi para uso residencial. Sabe o que é isso? Uma tomada num cômodo já resolveria a ligação de todos os aparelhos elétricos e eletrônicos daquele espaço, SEM FIO algum! Imagine os quilômetros de conduítes e fios embutidos que se economizaria. Essas coisas acontecem cada vez mais rápido. Na verdade, já se fala em tecnologia 6.0, mas não é o nosso propósito falar de indústria. Nosso propósito é implementar o conceito de Sociedade 5.0 para o CAU, que é aquele que conecta as tecnologias a serviço do ser humano, com qualidade de vida, deixando mais tempo livre para desenvolvermos outras atividades, com inclusão e sustentabilidade, e fazer com que isso se replique nas nossas cidades. Isso é 100% transversal ao trabalho do Arquiteto e Urbanista, que quer ver sua cidade prosperar. Isso é o mínimo que o CAU pode e deve se propor a fazer.

Leila:

Pois é como Mica falou, não tem nada de futuro nesse conceito. É, na verdade, uma corrida atrás do bonde da inovação que já passou e o CAU ficou meio na janela… Como candidata a Conselheira Federal, não posso me furtar a comentar, por exemplo, os problemas do sistema de comunicação do CAU (SICCAU) que já é motivo de piadas e “memes” no nosso meio, e é de responsabilidade do CAU BR. A pegada da Sociedade 5.0 é para falar de tecnologias sim, mas também de rejuvenescimento de conceitos e quebrar certos tabus. A palavra “imobiliário”, por exemplo, há tempos vem sendo usada com um caráter pejorativo, predatório, quando, na verdade, representa aquilo que a gente produz e que precisa sim ser comercializado. Com legalidade e ética. As cidades adensadas existentes, como as da Região Metropolitana do Rio, precisam continuar se desenvolvendo, e isso ocorre, na maioria dos casos, melhorando o conteúdo já existente, ressignificando usos, incentivando o crescimento, investindo em tecnologias que proporcionem qualidade de vida, com inclusão. Estamos com um grande atraso nesse debate.

Angelica:

E na prática, o que essa proposta da Chapa Sociedade 5.0 pode trazer de melhoria para os arquitetos e as cidades em geral?

Mica:

Sem maiores metáforas: Uma empresa só opera bem se ela tem um bom gerenciamento, certo? O CAU é uma empresa pública, com um capital especial que é obtido por conta própria. Ou seja, não são recursos da União. São arquitetos do estado do Rio de Janeiro, que pagam anuidades e RRT (registro de responsabilidade técnica) a cada serviço que fazem, que sustentam o Conselho. Se eles sustentam e, ao mesmo tempo, são impactados pelas ações do CAU, são seus shareholders e stakeholders. Precisam fazer parte e ser atuantes em muitas das decisões. Orçamento participativo, por exemplo, não é “toma aqui um patrocínio”, não. É um trabalho que depende de uma análise criteriosa do que é sugerido e, quando aprovado, torna-se um instrumento novo na gestão, que precisa reposicionar as prioridades. O CAU tem um giro de 15 milhões de reais/ano, aproximadamente, e saber como empregar esses recursos de forma eficiente com eficácia, ou seja, com resultados positivos, é a nossa grande diferença. Nosso Programa Condensado, no site , contém alguns desses projetos úteis, na prática.

Leila:

Bem, minhas pautas, como representante federal, serão aquelas que dependerem de deliberações que se apliquem a todo o território nacional, e elas sempre vergarão para um Conselho que se reconheça como meio de desenvolvimento e não um fim em si mesmo. Ingenuidade seria dizermos que um Conselho de Arquitetura, mesmo forte, com o pleno poder da credibilidade da sociedade, atuando com tecnologia de ponta, seria suficiente para imprimir melhorias perceptíveis, em pouco tempo, numa cidade (capital ou interior). Não é suficiente. Mas é necessário. Não estamos inventando a roda, mas vamos fazê-la girar para frente! Somos mudanças? Sim, porque não somos acomodados e não trabalhamos com o bom, nem o ótimo. Queremos o reconhecimento da EXCELÊNCIA. Excelência essa que fará a sociedade reconhecer a importância do papel do Arquiteto e Urbanista na construção da cidade; que garantirá a necessária assistência técnica para habitações de interesse social; que levará à confiança na fiscalização e regulamentação aplicadas pelo nosso Conselho; que gerará mais trabalho para a categoria e apresentará resultados com muito mais qualidade. Acreditamos muito nessa nossa “virada de chave” para o CAU, que também é pautada no “sentar para debater” com todos os setores da sociedade, buscando Prefeitos e Prefeituras, e considerando todos os 28.000 arquitetos do Estado do Rio, como conselheiros em potencial.

Angelica:

Pra fechar, a gente sabe que o trabalho de um conselheiro é voluntário, não remunerado; como fica a vida profissional de vocês?

Mica:

Fica ainda mais agitada! (rss) O que vale é que as pessoas do meu networking me conhecem e sabem que eu não nego fogo a nenhum desafio. Meu dia de trabalho começa depois do meu cafezinho e não tem hora para terminar. Mas o segredinho, na verdade, é saber DELEGAR. Quando você tem um planejamento estratégico estabelecido, com resultados que se quer alcançar, e, é claro, com os colaboradores certos, pode vir todo o trabalho que vier, que eu sei como e quando vou entregar. Os servidores do CAU que já me atenderam são ótimos e com certeza vão querer se aprimorar. Os colegas da Chapa 01 são atuantes em vários nichos da nossa profissão e estão com gás para atuar de verdade. Sociedade 5.0 é colaboração, é atuação e será uma turbinada no motor 1.0 do CAU.

Leila:

Olha, isso é sobre quem gosta da verdadeira acepção da palavra “trabalho”. Sou servidora pública federal, e carrego na minha pasta funcional, com muito orgulho, duas Moções de Louvor dadas pela Direção da Autarquia onde atuo, justamente pela qualidade de trabalhos voluntários, não remunerados que lá desenvolvi. Precisa ter paixão pela causa que se luta ou defende para poder extrair desempenho de qualidade nesse tipo de trabalho. Eu tenho essa paixão, sou orgulhosa da minha bagagem e sou incansável na defesa da Arquitetura e Urbanismo, tal como a minha suplente Denise Vogel. Nós mulheres já somos multifuncionais, né? Mãe, esposa, filha, do lar, do emprego, do voluntariado, do estudo, da pesquisa, das artes, da literatura… somos boas naquilo que a gente quiser ser!

Mica:

E agora somos AS candidatas!

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