“O grande problema da sociedade é esperar que um doente mental não agirá como tal”
Acontece nessa quinta, 3/10, nos cinemas de todo Brasil a estreia de um dos filmes mais aguardados do ano, Coringa, ou Joker no original, que chega já com prêmios na bagagem. Após abocanhar o Leão de Ouro, a principal estatueta do Festival de Veneza, cogita-se ainda que o longa possa vir a ganhar algum destaque na premiação do Oscar. E as apostas são todas para Joaquin Phoenix, o ator que carrega toda a carga dramática de densidade do filme no corpo raquítico.
E é por isso que Coringa não é mais uma história de HQ. Com pretensão de elaborar uma obra extremamente artística, o diretor Todd Phillips (‘Se beber, não case’) aposta no drama e no suspense psicológico para prender a respiração do público do início ao fim, ainda que no começo essa vontade esteja tão explícita que só falta saltar da tela aos nossos olhos o clamor ‘por favor, prestem atenção em como esse filme é poético e artístico’. E nem precisava. Nas primeiras cenas o personagem já ganha a empatia da plateia, que aguarda ansiosa o desenrolar seguinte.
Durante todo o filme, Arthur Fleck, nome de batismo do anti-herói, consegue comover em níveis tão absurdos que quase esquecemos que se trata, na verdade, de um vilão. E dos mais lunáticos da história das HQ’S. A surpresa e os gritos de espasmos nas cenas de violência gratuita, no descontrole e na beleza do caos, – que começam a acontecer em uma ordem extremamemte rápida para atingir ao clímax final – , exemplifica o quanto havíamos esquecido de quem realmente era o Coringa. Algo que Fleck não faz questão de se esquivar, uma vez que passou a vida inteira suportando todos os dessabores possíveis para uma pessoa que sofre de transtornos mentais. E quando o diretor tenta justificar a loucura com questões sociais, exagera.
Além de tratar de questões psíquicas – de forma bastante superficial -, o filme também não foge ao Batman ao falar das mazelas sociais de Gotham City (a cidade representante de tantas cidades reais) e às referências de Bruce Wayne, que escapa da vilania por pouco, já que aparece criança, teoricamente inocente e alheia à frieza do pai. Ah! E também tem Robert De Niro majestoso no papel de um famoso apresentador de TV.
Porém, se for comparar com a atuação de Phoenix, nada no enredo parece importar tanto, uma vez que os comentários serão, em sua maioria, para o ator. E basta observar as entrevistas e recentes descobertas de “ataques de nervos” nos bastidores para perceber o quão fundo foi Phoenix na construção desse personagem de como isso pareceu estar nas suas entranhas de forma dolorosa, algo perceptível e que passa quase por osmose para o público.
Com fortes referências a Taxi Driver, Coringa é um filme que vai agradar novos e antigos amantes da telona, mas se a sua intenção for assistir a uma história em quadrinhos, é melhor passar longe e esperar a próxima estreia.
Eu estava bem na dúvida, agora com certeza vou assistir com certeza.
Depois dessa matéria, PRECISO ASSISTIR.