Crítica Teatral: Pá de Cal (Ray Lux) A sombra que nos persegue

'Pá de cal é a metáfora, pois é o último ato da cerimônia do enterro Ocidental, de algo que definitivamente acabou'

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Foto: Divulgação

Pá de cal é a metáfora, pois é o último ato da cerimônia do enterro Ocidental, de algo que definitivamente acabou. É sempre um fato, uma situação de encerramento, de fim, de não se ter mais chance. Acabou. Com esse conceito, Jô Bilac constrói Pá de Cal (Ray-lux), espetáculo que comemora 15 anos da Cia Teatro Independente, fundada por Jô, Paulo Verlings e Carolina Pismel.

Um suicídio, uma família disfuncional, pessoas que jamais se viram, algumas que se reencontram, mas todos desconfortáveis com aquilo que estão sendo obrigados a enfrentar. O personagem que é o ponto de encontro, ligação, que não está presente. Assim como não estão presentes aqueles que  deveriam lá estar, seja pelo afeto e pela situação legal.

O primeiro e princpal ausente é representado pela viúva francesa, que para marcar a nacionalidade da atriz Kênia Bárbara optou-se pelo esforço em uma fala em um possível francês. Carolina Pismel, em uma atuação primorosa,representa a irmã personalidade pop. Orlando Caldeira, o cunhado, marido da irmã mais velha, como todo cunhado tem um pouco de canalhice. E Pedro Henrique França, primeiro portador de nanismo, que vimos em palcos brasileiros, é o advogado da mãe. Isaac Bernat é o pai, que como  toda representação simbólica da figura paterna de repressão e autoridade, está lá tentando  se retomar como patriarca.

E com essa trama, a nomeação dos personagens é muito boa: o pai e o filho se chamam Adão, a filha amada é Eva e a mãe “ilegal”do filho que se mata se chama Lilith, a demônia, a tentação. A direção de Paulo Verlings consegue tirar dessa mistura que, poderia ser dificílima de conciliar, um equilíbrio nas interpretações, nos tons,  criando pequenas cenas com alta comicidade, outras como a discussão sobre a herança em um tom quase prosaico, e a dramaticidade do momento em que se encena  a constelação familiar como uma tentativa de  se ver como se superam  o mal  causado pelo relacionamento de Adão e Lilith.

O subtítulo da peça, em latim, nos faz lembrar a necessidade constante de um raio de luz. E, ao mesmo tempo, todas as ilustrações que tratam da Biblia são sempre ilimunadas pelo facho que coloca em destaque, apenas. Não aclara, nada, só coloca em foco. Pá de Cal trata disso: que , apesar de todas as tentativas, não há como se jogar qualquer luz em situações encerradas. Como não há constelação familiar, terapia, que seja capaz de religar os laços de afeto, quando esses não existem na origem. Que nem a morte, causada pelo suicídio, que nem a ausência, nem o silêncio são capazes de ultrapassar a falta  daquilo que nos é mais importante: a aceitação pelo outro.

Direção: ****

TExto:****

Interpretação:***

Cenários e Figurinos: **

Serviço

Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro II
Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro
Informações: 21 3808-2020

Apresentações: Quintas, sextas e sábados, às 19h, e domingos, às 18h.
Valor do ingresso: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia entrada)
Vendas na bilheteria do teatro ou pelo site www.eventim.com.br
Ingressos à venda a partir de 8 de novembro.

Não recomendado para menores de 14 anos.

Capacidade de público: 150 lugares
Duração: 70 minutos

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Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.

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