Embora conheça e frequente os poucos que sobraram, não peguei o auge dos cinemas de rua do Rio de Janeiro. Eram muitos e espalhados por quase todas as regiões da cidade. Não fiz parte da turma que ia para um lugar somente para assistir filmes. Minha geração já nasceu com os cinemas de shoppings centers e todos os seus atrativos comerciais operando a todo vapor. Todavia, os tempos tomam novos caminhos e depois de saírem das ruas e entrarem nos shoppings, as pessoas agora veem filmes em cinemas interativos. E não estou falando de ficção cientifica, de nova tecnologia ou interação positiva.
Dias atrás, fui ver um filme no Shopping Metropolitano, na Zona Oeste da cidade. Sentei na última fileira, como tento sempre fazer, e de lá tive uma boa vista não só da tela do cinema como das telas reais dos celulares dos outros espectadores. Pensei que isso passaria quando o filme começasse a passar, mas meu roteiro estava errado. Tentava mudar a direção dos olhos, porém, não adiantava, em vários cantos da sala era possível ver uma luzinha de celular. “Corta”, eu pensava.
Duas fileiras à minha frente, uma menina fazia um filme do filme para postar em uma das incontáveis opções de filmar histórias que passamos a ter nas redes sociais de uns tempos para cá. Não sei se foi pro Insta, pro Face, pro Zap, pro Snap ou pro Mensager, só sei que foi bem na minha frente. Não curti.
Algumas poltronas ao meu lado direito, um garoto atendeu a ligação de alguém: “Depois, eu te retorno, mas se liga, tô vendo aquele filme que te falei que ia ver, tá ligado? Muito bom. Tá rolando uma cena irada, agora”, disse ele, que estava olhando para o chão enquanto falava.
Como se não bastasse, na minha frente, uma menina com graves problemas de visão (a fonte do Watasapp dela era enorme) comentava o filme com uma amiga, que respondia sobre o mesmo filme. “Será que elas estão na mesma sala?”, questionei mentalmente.
Exatamente ao meu lado esquerdo, uma senhora analisava, em voz baixa, as cenas. “Isso! Corre, garrota”. “Iiiii, agora ela se deu mal”, “Porra, que idiota, foi fazer barulho logo agora?”. Essas foram algumas das frases da aprendiz de Glória Pires.
No auge da minha reflexiva poltrona, elaborei uma mal filmada teoria: o excesso de uso de redes sociais está mudando nosso comportamento social. Como nos Facebooks, Instagrams e Watsapprs da vida, nós estamos sempre opinando, participando, produzindo algum conteúdo – não importa se bom ou ruim – temos dificuldade para parar, passivamente, e contemplar algo. Nós não queremos só assistir, nós queremos mostrar e comentar o que estamos assistindo.
Como estava interessado no filme, ignorei as imagens da vida real e foquei na ficção. Eis que surge a última cena e o vilão sobrevive. Confirmando minha curta teoria, muitas pessoas saíram da sala reclamando do final. Indo embora, liguei meu celular. Eu precisava falar com os amigos sobre o que eu havia acabado de presenciar.