A primeira vez que fui ao Museu Nacional foi em um passeio de escola pública, quando eu era bem criança. Foi o primeiro museu que fui na vida. Ainda lembro a imensa vontade que fiquei de voltar para lá. Tomei gosto por esse tipo de lugar.
Voltei outras vezes. Uma delas, ainda criança, fui com alguns parentes que só foram a um museu na vida, justamente o Museu Nacional. Realidade de muitos cariocas, inclusive. Principalmente os que vivem longe dos espaços culturais do Rio.
Alguns desses meus parentes, em passeios pela Quinta da Boa Vista, entraram no Museu Nacional outras vezes. Por mais que não fosse a sua principal forma de lazer, as pessoas sempre voltavam ao Museu Nacional.
Também fui a trabalho, mais recentemente, e o descaso já era facilmente notado. Era uma tragédia anunciada, todos sabiam que algo ruim iria acontecer. Sobretudo os responsáveis.
Em uma dessas idas a trabalho, conheci pesquisadores, pessoas que trabalhavam no Museu. Entre eles, Camila, que virou minha amiga. Ela se interessou pela área da pesquisa quando tinha sete anos e visitou o Museu pela primeira vez.
No dia em que conheci Camila, estava acontecendo um passeio de escola pública no Museu Nacional. Algumas crianças saíram de lá empolgadas, querendo saber quando poderiam voltar.
Apesar de todas as barbaridades que o descaso dos responsáveis causou ao Museu Nacional, era um lugar para o qual as pessoas sempre queriam voltar – e voltavam. Agora não tem mais volta.
Quantas crianças não vão tomar gosto por arte e cultura por conta dessa tragédia mais que anunciada? Quantos adultos, sobretudo os de regiões mais afastadas dos grandes centros culturais, nunca mais irão a um museu? Quantos futuros pesquisadores perdemos nessa história? Quantas pesquisas, estudos viraram cinzas? Não foram só peças do passado que se perderam no incêndio. Um pouco do futuro também se foi. E esse futuro não tem volta.