Crônicas da bola: É obrigação moral secar o time rival

Para Felipe Lucena, essa conversa de "quero que vocês ganhem esse título" é sinal de que os adversários estão achando seu clube menor, que não representa mais tanto perigo

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Fluminense Louco da Cabeça Maracanã foto de Alvaro Tallarico
Foto: Alvaro Tallarico

O jornalista e escritor Xico Sá sempre abria suas colunas esportivas na Folha de São Paulo com o bordão “amigo torcedor, amigo secador”. Sá, grande cronista esportivo, costuma dizer que a relação de seu texto com Nelson Rodrigues vai além da admiração e beira o plágio. Acho que posso dizer que comigo é parecido quando penso nos escritos do cearense e santista Xico, que aqui no Rio gosta do Botafogo. Estima do patamar do velho Maracanã.

A diretoria do DIÁIO DO RIO me convidou para escrever crônicas de futebol, semanalmente, para o jornal. Quintino Gomes Freire falou que está lendo a biografia de Nelson Rodrigues e sugeriu que eu falasse dessa paixão nacional e carioca que é o esporte bretão. Estou dando essa volta toda, como um time que segura uma vitória importante com quedas no chão e bolas que somem pelas linhas laterais, para dizer que nessa estreia quis citar esses dois grandes nomes da crônica esportiva brasileira e falar sobre o irresistível e necessário sentimento de torcer contra um time rival.

Até o último domingo, 25/09, quando o Flamengo perdeu para o São Paulo a final da Copa do Brasil de 2023, tínhamos três times cariocas com chances de título grande nesse ano. Além do Vasco em ascensão no Campeonato Brasileiro e deixando a zona da confusão para trás. E os rubro-negros, apesar de um ano cheio de decepções, ainda têm chance de disputar o caneco do Brasileirão. Ou seja, motivos para secar, todos têm. Todos temos.

Outro dia, falei com uns amigos botafoguenses que ficaria incomodado se algum torcedor rival dissesse que está torcendo pelo título brasileiro do Botafogo. Adversário, ainda mais do mesmo estado, tem que torcer contra! Muitas vezes, esse papinho de “quero que vocês ganhem esse título” traz no pacote uma visão de que aquele outro clube não te incomoda mais. É apequenar a instituição.

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Quando o Bangu foi à final do Brasileirão de 1985, as quatro torcidas dos grandes do Rio de Janeiro se uniram para apoiar o clube da Zona Oeste no Maracanã. O hino deles até fala que a torcida unida é maior que a do Fla-Flu. Embora o alvirrubro vivesse um momento mágico e mereça o máximo respeito, a vibração de adversários locais deixava claro que não era mais um rival que incomodava outros rivais, como foi em décadas anteriores, anos 1930 e 1960, quando venceram títulos estaduais, por exemplo.

O meu Fluminense e também de Nelson Rodrigues está na semifinal da Taça Libertadores da América, um título que é uma obsessão da nossa torcida. Eu não quero caôzada de “tomara que vocês vençam”. Eu quero é que sequem. Que fiquem acordados até tarde e que se deem mal no final, se vencermos a final, que será no Maracanã, como foi em 2008. Há 15 anos, nós perdemos uma final de Liberta lá. A história está próxima de se repetir. Nelson adoraria escrever sobre isso. Vamos, tricolores do céu e da terra… chegou a hora?

Um amigo vascaíno afirmou que se fosse para o Vasco não cair esse ano, ele aceitaria Botafogo campeão do Campeonato Brasileiro, Flamengo da Copa do Brasil e Fluminense levantando a Libertadores. Mas, caso contrário, o desejo dele é de que todo mundo se… perca por aí. Esse argumento, eu quase aceito. Porém (ai porém!), acho que o certo mesmo é secar geral. Torcer contra mesmo. Só vale torcer a favor se seu time for se beneficiar. Aí, eu chamo todo mundo de coirmão, falo em união do futebol carioca e tudo mais.

Não fiquem com raiva de rivais secadores. Se estão com esse olhar para cima do seu time é porque se incomodam com o ele. É sinal de grandeza. Tudo na paz, na amizade, unindo amigos torcedores e amigos secadores no mesmo jogo. Que vença o melhor e que o melhor seja o Fluminense. Os outros que lutem e joguem enquanto eu seco.

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