Claudia Mello
Médica e secretária de Estado de Saúde do Rio de Janeiro
Antonio Braga
Médico e assessor da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro
Rafael Mello Galliez
Médico do Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião
A Região Metropolitana do Rio enfrentou no fim de semana as consequências de temporais que atingiram diversas cidades. Mas, quando a chuva passa e a água baixa, é preciso estar atento a problemas de saúde que podem vir com enchentes. Um dos primeiros passos é avaliar se houve contaminação da caixa d’água e de poços artesianos. Por isso, filtrar e ferver a água que será usada neste momento é medida indispensável. É preciso também atenção especial à limpeza de locais alagados, que deve ser feita, se possível, com botas e luvas impermeáveis para evitar contaminações. Após a retirada da água, da lama e da terra das casas, é preciso usar solução desinfetante com água sanitária para limpar pisos, paredes e todas as superfícies atingidas pela enchente.
O fornecimento de hipoclorito para desinfecção de água para consumo humano, envio de kit saúde com medicamentos e insumos, apoio técnico às áreas de vigilância sanitária, ambiental, alertas às equipes de atenção primária dos municípios e vistoriais em pontos de atendimento a desabrigados são ações que o Governo do Rio deu início, por meio da Secretaria de Estado de Saúde, logo após os acontecimentos.
Todos os que enfrentaram alagamentos precisam se preocupar com sintomas como dor de cabeça, dor no corpo, náuseas ou diarreias. Eles podem sugerir doenças infecciosas associadas às enchentes, como leptospirose, doenças intestinais, hepatite A e febre tifoide. No caso da leptospirose, basta o contato da pele com a água ou a lama contaminada. É doença grave, acompanhada por dor na panturrilha, fraqueza, sangramentos na pele e mucosa. Há risco, se não for tratada logo, de gerar insuficiência renal e levar à morte. Os sintomas podem surgir até 30 dias após o contato com a água contaminada. Isso precisa ser levado em conta e, em caso de sintomas, o profissional de saúde deve ser informado sobre o contato com água, lama ou outras coisas associadas às enchentes.
Outra preocupação é com doenças infecciosas intestinais, geralmente de aparecimento mais agudo. São, na maioria, causadas pelo consumo de água ou alimentos contaminados. Por isso, além de filtrar e ferver a água, é preciso que os alimentos que tiveram contato com água das chuvas ou com a lama sejam descartados. O aparecimento de fezes amolecidas, aumento do número de evacuações diárias, dor de barriga, vômito, náuseas e febre são sinais de alerta para procurar o serviço de saúde.
Além disso, há risco de, como consequência do lixo nas ruas, que animais peçonhentos, como escorpiões e cobras, invadam casas. Então, manter a casa limpa e verificar todos os pontos onde esses invasores possam se esconder, como frestas, calçados, tapetes, móveis e outros, é cuidado essencial.
E não podemos nos esquecer da dengue. O estado já enfrenta aumento do número de casos, como vem sendo alertado pela Secretaria estadual, e a situação pode se agravar como consequência do temporal, com o acúmulo de água em vários pontos. Calor e água parada facilitam a proliferação do mosquito transmissor da dengue. Então, é urgente reforçar a busca ativa por locais que possam ter larvas do Aedes Aegypti, em casas, quintais, lojas, escolas, igrejas, etc. A vistoria deve incluir telhados, pneus, vasos ou qualquer ponto onde a água fique acumulada.
Além disso, deve-se ter atenção a qualquer sintoma que indique que a pessoa tenha sido contaminada. A febre é o mais comum no caso da dengue e de outras doenças que aparecem após as enchentes, mas não é o único. Por isso, todos devem estar o tempo todo atentos e buscar o serviço de saúde se aparecer algum sinal de que a saúde pode ter sido afetada.
Sua saúde é seu maior bem em tempos de enchentes. Fique atento e seguro!