Colocar a zona oeste definitivamente no mapa cultural carioca tem sido um dos grandes desafios de Guilherme Oliveira, empreendedor do segmento que, há cerca de duas décadas vem desenvolvendo um trabalho de destaque com eventos que privilegiam o samba, o charme e as demais vertentes fruto de um importantíssimo legado ancestral africano.
Idealizador e realizador do Circuito Afro Carioca, Guilherme é morador do bairro de Realengo, estudioso das religiões de matriz africana, e vem trabalhando para superar o seu maior desafio, que é garantir financiamento sustentável para os projetos culturais e superar a falta de infraestrutura adequada na zona oeste.
“A zona oeste do Rio de Janeiro é um ambiente vibrante e diversificado, com uma rica mistura de tradições culturais e novas expressões artísticas. É um local com grande potencial para o desenvolvimento cultural, mas que também enfrenta desafios estruturais. Tenho orgulho de ter contribuído para o fortalecimento da cena cultural local e de ter criado espaços que possibilitam a expressão e o crescimento de artistas da zona oeste e sigo buscando propagar todo o potencial cultural que temos, incluindo o legado ancestral africano e a variedade de empreendedores que temos na região”, diz.
Conhecida no carnaval pelas presença da Mocidade e, mais recentemente pela ascensão do Unidos de Padre Miguel, ao seleto grupo de agremiações que representam a elite das escolas de samba, a região, que conta com mais de 500 mil habitantes, é berço de artistas como Jorge Aragão, Mumuzinho, Jojo Toddynho e do Grupo Vou Pro Sereno, entre outros representantes ilustres que reafirmam a potência cultural do lugar.
Pensando nisso, o empreendedor pretende expandir as ações coordenadas pelo Circuito Afro Carioca e já prepara dois novos projetos para serem lançados ainda no primeiro semestre, com intuito de fomentar ainda mais a produção cultural local.
“Não é bairrismo, é constatação de que somos um importante polo cultural para a cidade do Rio de Janeiro. Bangu, Realengo, Padre Miguel e adjacências, têm uma diversidade de opções que vão desde o entretenimento à gastronomia, sem contar com a riqueza histórica da região. O carioca precisa nos conhecer mais e desfrutar dessas opções que nada deixam desejar se comparadas à zona sul, por exemplo. Nossas escolas de samba são grandes aliadas, mas há um nicho ainda pouco explorado e que precisa ser mostrado. Nossa missão é colocar a zona oeste na rota cultural carioca, valorizando e reconhecendo a nossa ancestralidade para que esses eventos, sempre gratuitos, contribuam com a nossa luta antirracista ”, diz ele.
Dentro deste espectro, as religiões de matriz africana são um ponto crucial para a propagação do Circuito. Para além dos eventos que já estão no calendário do projeto, Guilherme prevê ações permanentes ao longo do ano, que exaltem a contribuição que a umbanda e o candomblé têm na história da construção das bases culturais da população.
“Uma de nossas premissas é fazer com que a ignorância, no sentido amplo da palavra, se converta em conhecimento, pois, somente assim nós vamos avançar na luta antirracista e na construção de uma sociedade mais respeitosa para com a nossa herança africana. Esse conhecimento se dá não somente por meio dos cultos, mas através de seminários, exposições, rodas de conversas e uma infinidade de ações que mostrem o quanto esse legado africano está presente no dia a dia da nossa gente, independente da religião que tenham. Trazer à cena a dança dos orixás, a história desses alimentos ou o significado do branco que se usa às sextas, é uma forma de educar a população, a começar pelos mais jovens. Por conta disto, o Circuito Afro Carioca chega neste primeiro semestre lançando novos projetos voltados para essa vertente”, comenta.