O Rio de Janeiro sempre foi conhecido por ter suas facetas anárquicas, boêmias e libertinas. Muitos pontos da cidade e épocas do ano são referência no que diz respeito a uma espécie de “bagunça carioca”. O clima despreocupado, informal e sem muitas regras seria uma demonstração de um espírito aventureiro e livre.
Ocorre que essas facetas não significam que a cidade como um todo deva ser caótica, desordenada e sem lei, com a confusão vigorando 7 dias por semana, 4 semanas por mês e 12 meses por ano. Atualmente, temos uma desordem generalizada no Rio, sendo difícil até mesmo manter a capacidade de se chocar com certos desrespeitos às posturas municipais. O errado vai se tornando o normal e o certo vai se tornando o otário.
É compreensível, por exemplo, que em um momento de crise econômica haja um aumento do comércio ambulante, com pessoas desempregadas buscando uma maneira informal de obter renda. Contudo, isso não significa que seja justificável que as calçadas das áreas de comércio sejam tomadas por barracas, mesas e até mesmo lonas que cobrem o chão e impedem a função original do espaço: A passagem de pedestres. Além disso, em um momento de queda de arrecadação do setor público, é fundamental a recuperação do comércio e dos serviços, que se torna ainda mais complexa quando existem ambulantes vendendo bolos e pães na porta de padarias, itens eletrônicos em frente a lojas de informática, quentinhas ao lado de restaurantes, etc. Aqueles que pagam impostos se veem indefesos enquanto a informalidade cresce e se vale do fato de não contribuir com tributos, não pagar direitos trabalhistas, não informar procedência de mercadorias e não garantir qualidade dos produtos.
Ao mesmo tempo em que os pedestres têm dificuldade de transitar nas calçadas, os motoristas sofrem nas ruas, com asfalto que parece queijo suíço, sinais de trânsito desligados, falta de operadores de trânsito e obras paralisadas que transformam a Avenida Brasil em uma prova de obstáculos. As multas, por sua vez, seguem sendo aplicadas com rigor. Isso só colabora para o cenário de desorganização e o sentimento que mescla caos e injustiça.
O atual Prefeito prometeu em campanha eleitoral que iria cuidar das pessoas e focar na manutenção das funções básicas do Município, com prioridade para que as coisas funcionassem ao invés de novos investimentos. Pois bem. Os novos investimentos não ocorreram, mas as coisas também não estão funcionando e as pessoas não estão se sentindo cuidadas. Ao contrário. Seguimos aguardando o cumprimento das promessas e a desordem urbana é apenas um dos problemas diários que o carioca enfrenta.