Dani Monteiro: A segurança pública do RJ em estado de calamidade

A colunista do DIÁRIO DO RIO comenta sobre as operações de combate à criminalidade e a violência policial

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Pretos e pobres são vítimas mais frequentes da violência policial, mas estamos todos reféns de uma política criada para matar.

Eu bem gostaria de começar essa conversa com a leveza que um feriadão devia inspirar. Infelizmente, a semana que ainda não terminou começou com mais um espetáculo grotesco disparado pelas forças de segurança pública no Rio de Janeiro. Como todos vimos, enquanto uma ação policial apreendeu 45 fuzis em um condomínio na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, seguindo os devidos protocolos, portando mandados de segurança e sem disparar um único tiro, comunidades como a Maré, a Cidade de Deus e a Vila Cruzeiro, para citar apenas três, acordaram sobressaltadas em plena segunda-feira com os disparos vindos de todos os lados, até do céu. Qual a lógica para a adoção de medidas tão distintas e de acordo com o território, governador?

Pela complexidade que envolve uma operação policial, digamos que o que se espera é, no mínimo, planejamento, que os riscos tenham sido calculados e que a responsabilidade com as vidas que podem ser afetadas seja garantida. Como ocorre semana sim e às vezes na outra também, o que é executado em territórios de alta densidade populacional é o contrário disso. Morrem jovens, morrem crianças, morrem também adultos que não tinham nada a ver com a história. As chacinas são a pior face dessa lógica.

A estratégia e o tratamento mudam de acordo com a região. Prova disso é que na ação feita em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, tivemos uma demonstração clara de que, sim, é possível agir com inteligência no combate à criminalidade, mas a regra, lamentavelmente, não vale para todos os endereços postais.

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O assunto é mesmo urgente. Certamente as operações policiais de alvo incerto quando adentram comunidades pobres causam impactos em muitos níveis, mas não sabemos o que pensa e em quais dados o governo do estado se ampara quando autoriza tais operações. Não sabemos se o estado considera o número de escolas e se elas podem ser atingidas, quantos alunos ficarão sem aula com o fechamento dessas escolas. O que diz o governo sobre os postos de saúde e até mesmo hospitais que ficam inacessíveis porque a população é impedida de circular, ou sobre os trabalhadores e as trabalhadoras que não podem sair de suas casas?

Ora, se o objetivo das polícias e forças de segurança é mesmo combater organizações criminosas bem armadas, responsáveis pelo comércio ilegal de drogas e pela violência que nos corrói, não parece razoável apontar os fuzis em áreas residenciais pobres sem que os danos sejam considerados. Nesse emaranhado de intenções não declaradas e de inimigos incertos, estão em risco os moradores e também os agentes de segurança.

Está bem claro que precisamos sair dessa enrascada em que tráfico, milícia e agentes públicos se misturam, como não deveria ocorrer. Está bem claro que precisamos debater o tipo de segurança pública que queremos, seguindo os princípios da igualdade e da universalidade. Para isso, vamos precisar nos entender como sociedade.

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1 COMENTÁRIO

  1. Se a população brasileira é formada na maior parte de população negra, que inclui pretos e pardos (pedindo licença se incorreto este termo, pois já ouvi crítica a respeito que não existe pardo é papel), e que grande parte dessa população está nas camadas mais pobres, que estão em áreas dominadas por organizações criminosas, então, claro, era de se intuir que por haver mais conflito nessas áreas e refletindo na atuação policial com menos tolerância é de ser supor que realmente tivesse maior número de negros entre vítimas da violência policial.
    O Estado precisa oferecer mais serviços de qualidade nessas regiões e também jovens ter maior interesse em mudar de vida, sem atalhos. Geração nem nem que fica no tiktok não é futuro.

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