Dani Monteiro e Daises Santos: Pelo resgate da nossa africanidade

'É sobre as vidas pobres e que se aglomeram nas periferias que precisamos refletir. Sobre as possibilidades que podemos oferecer a elas para uma existência digna'

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*Daises Santos é ex-aluna do Ciep 201 Aarão Steinbruch e ativista dos Direitos Humanos

Nós sabemos bem o que o racismo faz com os nossos corpos e as nossas subjetividades. Somos pretas, nascemos assim e fomos criadas aos trancos por insistência e persistência dos nossos. É sobre a resistência e o quanto a educação é capaz de nos moldar, que queremos falar. É sobre as vidas pobres e que se aglomeram nas periferias que precisamos refletir. Sobre as possibilidades que podemos oferecer a elas para uma existência digna.

Nesse mês de março, quando a discriminação tem o dia do seu combate, queremos falar sobre uma experiência, em especial, para quem não conhece: O Ciep 201 Aarão Steinbruch, no bairro de São Bento, em Duque de Caxias, e o projeto Africanidades.

Fruto da lei 10.639/2003, o projeto Africanidades, abriu os olhos de muitos de nós sobre uma verdade que nos é negada desde sempre em território brasileiro, que é a cultura africana como parte formadora do que somos hoje. Com ele e a partir dele, foi possível, ainda que timidamente, ver menos exaltação à cultura europeia e mais atenção aos nossos traços inegavelmente negróides nas escolas. O Ciep 201 é um exemplo disso.

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Falar sobre a Baixada Fluminense implica em lidar com uma realidade que não é passada na televisão, esse veículo que ainda nos impõe narrativas. A Baixada, para quem ainda não sabe, é formada por uma população negra e indígena, exatamente esses dois estratos da população que vivenciam, na pele, a violência e racismo. Cultura e educação por lá são artigos de luxo.

Entre tantos caminhos, que podem levar à vida ou à morte, o projeto Africanidades proporciona o diálogo entre a escola e toda a comunidade ao redor. No CIEP 201, a experiência exitosa que queremos enaltecer começou com o exercício de os alunos perceberem as violências de que são vítimas cotidianamente. Nesse exercício, os alunos percebem, inclusive, que são levados, sem se darem conta, a travar uma guerra uns contra os outros porque o sistema impõe.

Nelson Mandela estava correto ao dizer que a educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo. A vida nos confirma essa máxima todos os dias. Escolas e professores podem, sim, fazer a diferença entre o presente e o futuro que queremos para nós e os que virão. Sabemos que ao nos enxergarmos, encaramos o desafio de dar significado à nossa história.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em 1979, o dia 21 de março como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Em janeiro deste ano, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, uma confirmação do que a data tem de significativo.

Um país com tamanha diversidade em sua formação não deveria precisar de um dia para lembrar que a discriminação, qualquer que seja a sua raiz, só nos causa danos.

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