Ao Igreja Católica pré conciliar restringia alterações litúrgicas na celebração da Missa que era restrita às prescrições do Ritual Romano. Com o advento do Conselho a Igreja recebeu uns “novos ares”; Muito do que não era passou a ser permitido, muito do que era impensável passou a ser sonhado e realizado. A essência, no entanto, do ritual da Missa não mudou. Ela continuou iniciando-se com o “em nome do Pai e terminando com o “vamos em paz e o senhor os acompanhe”.
Entre o início e o fim pôde se incluir temas específicos para que a Santa Missa em celebração fizesse memória a um motivo específico. Daí vimos a Missa dos Jovens, a Missa dos Idosos, a Missa de Cura, a Missa Indígena, a Missa dos Negros, a Missa dos doentes etc. Todas são Missas e ponto. Todas podem graças às permissões conciliares serem temáticas, mas nenhuma pode cometer excessos ou mesmo fugir a liturgia. A Igreja Católica está firme em suas bases sólidas consolidadas há centenas e centenas de anos.
Cabe a cada Bispo, senhor e Governante de sua Diocese parametrizar os limites de maneira a atender os fiéis sem afrontar a tradição e o Ritual Romano. Cabem aos Padres obedecerem a seus Bispos, afinal de contas em juramento solene ao serem ungidos prestaram tal juramento. É possível sim discutir e ponderar com o Ordinário local, expor ideias, mas ao final acate-se o que determina o Bispo. Esta é a norma da Igreja, esta é a hierarquia.
Quando se aproxima o dia 20 de novembro, consagrada e com justiça a consciência negra e a se render tributo aos afrodescendentes sempre vemos alguns excessos de alguns Padres e algumas teorias da conspiração que beiram ao ridículo. Já tivemos casos de Padres que ingressaram na Missa caracterizados do orixá Oxum. Isto não é litúrgico, seria mais apropriado para um festival de teatro do ensino médio onde ser contra “o sistema” é a regra, é moderno, é a vibe. Já vimos Missas afro onde um pequeno grupo de percussionistas entoaram, inclusive na Sagrada Comunhão, cantos no idioma bantu ou yorubá de louvação a entidades. Isso não é Missa Afro, isso é heresia. Desculpem, mas não encontro termo mais ameno para tais procedimentos no mínimo escandalosos.
Não há questão de ser conservador ou progressista, não há questão de institutos de leigos católicos de extrema direita tentarem impedir excessos numa Missa Afro, não conspirações de supremacias brancas. O que há na verdade é que os Ordinários em suas Dioceses necessitam impor limites sob pena de em determinado momento todos estarem no templo Católico em transe mediúnico.
Há Padres que querem fazer um verdadeiro teatro em nome de uma suposta Missa Afro, para ganhar mídia, se mostrarem rebeldes com os rituais da Igreja Católica. Rituais estes que aceitaram quando por livre vontade receberam a ordenação e juraram obediência ao Bispo e ao Papa.
E quando estes Padres encontram meia dúzia de inocentes úteis chegam a arvorar-se, contando sempre com a misericórdia de seus Superiores, de utilizar meios, inclusive internet para tentar criar uma “guerra santa”. Como se eles fossem a verdadeira Igreja, incutindo nas Missas liturgias estranhas e como se aqueles que se colocam contrários fossem inquisidores, carrascos, reacionários e conservadores.
A unidade da Igreja não chega a correr perigo ante a estes arroubos de Sacerdotes, que deveriam a meu sentir terem a coragem então de procurar livremente culto cuja liturgia lhes fosse mais conveniente. Não me venham agora querer macular um Ritual Sagrado. Existe no Rio de Janeiro a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos que realiza lindas Missas com temática africana, mas limitada aos parâmetros previstos nos Códigos e normas da Santa Sé.
Eu cito por exemplo o Rio de Janeiro e aí sou obrigado a citar Dom Orani João, Cardeal Tempesta, um inconformado com a injustiça social, um homem que apesar do alto posto, prefere estar na rua com os mais humildes e sem distinguir raças, levar-lhes conforto espiritual, amenizar suas necessidades humanas e procurar incutir em cada um deles que Deus deles nunca se esquecerá. Com todo seu pacifismo, com todo seu carisma, com toda sua bondade, Dom Orani é o Cardeal que recentemente foi premiado por ser uma das mais altas e importantes vozes em prol do diálogo inter religioso. É impossível, no entanto esperar dele ou de qualquer outro Bispo que também está sob autoridade do Romano Pontífice atitudes excessivamente permissivas no que se refere ao ritual da Missa. Existe o Ritual e é para ser cumprido.
Obvio que Dom Orani e a Arquidiocese do Rio não tem qualquer ligação com institutos de extrema direita, conservadores, como não tem ligações com extrema esquerda ou progressistas. Ele é Bispo de todos e para todos procura dentro do que lhe é possível atender os pleitos de cada um. Que as Missa Afro continue, mas que o ritual fundamental seja seguido. Não é possível imaginar por exemplo um centro de religião de matriz afrodescendente ofertando a Hóstia durante uma de suas sessões, é inimaginável os Evangélicos fazerem uma procissão com a imagem da Virgem em um andor ou um muçulmano ou judeu cravar que Cristo, o ungido, seja o Messias.
É possível respeitar as diferenças religiosas e é possível sim homenagear o povo Afrodescendente com belas Missas tocantes, cheias de significado, que nos faça lembrar das misérias da escravidão, das injustiças que os negros passaram e ainda passam, da necessidade de que todos saibam que aos olhos de Deus somos todos iguais. Tudo isso pode ser feito, menos teatros, excessos e atos anti litúrgicos. Essas atitudes, somadas a teorias de conspiração, abaixo assinados e outras ferramentas do gênero, servem para que para desagregar e talvez, para dar 5 minutos de fama a seus protagonistas, que devem recolher-se em oração e lembrar do que juraram cumprir e fazer cumprir. O proselitismo e as falsas narrativas prejudicam a Igreja, dividem, abrem feridas e de nada servem para a infusão do mandamento maior de Jesus: Amar o próximo como a ti mesmo. Quando penso neste mandamento penso no Arcebispo do Rio, cujas atitudes muitas vezes discretas e silenciosas mostram um imenso amor pelas pessoas.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.