Eu li o livro de contos De repente nenhum som duas vezes. A primeira, logo que ele chegou a minha casa, levada pela urgência da curiosidade: com quantas palavras se fala do silêncio? Devorei os doze contos em poucas horas e passei alguns dias pensando no que havia lido.
Recentemente, enquanto arrumava alguns livros na estante, separei novamente De repente nenhum som, pois sabia que aqueles contos demandavam uma leitura menos urgente e mais atenta. Logo que pude, foi o que fiz: li novamente os contos, dessa vez com vagar, degustando cada palavra, cada história, cada expressão. E então compreendi que, mais do que pelas palavras, os contos de Bruno Inácio chamam atenção pelas imagens – e não estou falando das ótimas ilustrações de Orlandeli que acompanham as narrativas. Refiro-me às imagens mentais provocadas pelas histórias. É nelas que se encontra o silêncio, o momento em que, de repente, não há mais nenhum som.
No conto “Céu de ninguém”, uma mulher idosa cai no quintal e não tem forças para pedir ajuda. Resta a ela olhar o céu – uma imagem de silêncio.
“O desespero vai e volta e dá lugar a outros pensamentos e sensações. A mais presente é a separação. Consciência e corpo agora são independentes. Me vejo assistindo a uma vida que não é minha. Caída no quintal, forçada a observar um céu que já não me contempla.” (pág. 25)
É também possível imaginar o a dor emocional do neto que visita a avó internada, no conto “Lacunas”. O personagem coloca suas angústias em palavras, porém, a avó não pode ouvir. Silêncio.
De repente nenhum som é um livro fisicamente pequeno, mas rico em reflexões. Bruno Inácio traz para suas narrativas tanto o silêncio que gera angústia quanto aquele que é desejado – e nem sempre alcançado. A maestria do autor em capturar os silêncios existentes no cotidiano faz com que cada conto reverbere de maneira única e inesquecível em cada leitor.
____
Livro: De repente nenhum som
Autor: Bruno Inácio
Editora: Sabiá Livros
Páginas: 112