Depois de 144 anos de atuação, jornal O Fluminense deixa de circular

Fundado em 1878, em Niterói, o jornal era o mais antigo do Rio. O veículo é administrado por um grupo ligado ao mercado imobiliário e outro do segmento de shopping center

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Jornal O Fluminense / Reprodução; Site

O jornal O Fluminense, um dos mais antigos do Brasil e o mais antigo do Rio de Janeiro, encerrou a circulação da sua versão impressa, no início do mês de março, após funcionários da casa cruzarem os braços diante do não pagamento de três meses de salários.

De acordo com o colunista Gilson Monteiro, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, Mário Souza, deve se reunir com os diretores do veículo para esclarecer a real situação da empresa que, desde 2020, tem a sua administração dividida entre um grupo empresarial ligado ao mercado imobiliário, e outro ao segmento de shoppings centers.

Fundado em 1878, na cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, pelos majores da Guarda Nacional, Francisco Rodrigues de Miranda e Prudêncio Luís Ferreira Travassos, O Fluminense teve um papel fundamental na cobertura jornalística de fatos importantes da República, da velha província e da ex-capital do antigo Estado do Rio de Janeiro. Em seus anos iniciais, o jornal era publicado às quartas, sextas-feiras e domingos. A partir de 1892 passou a ser editado diariamente.

Nomes como Euclides da Cunha, Olavo Bilac, Rubem Braga, Marcos Almir Madeira, além de Irineu Marinho, fundador do jornal O Globo, e os imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL), José Cândido de Carvalho e Marcos Lucchesi, também passaram pela redação do jornal que, até 1954, era especializado em classificados.

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Foi sob o comando do jornalista e deputado Alberto Torres, que o jornal ganhou um perfil, de fato, jornalístico. Torres, além de comandar o veículo, também criou um grupo de comunicação com as rádios Fluminense AM e FM.

A influência política do udenista Alberto Torres, que foi deputado federal constituinte e deputado estadual por muitos anos, ajudou para que o jornal conquistasse relevância política em sua fase áurea. Sem falar no fato de que Alberto era irmão de Paulo Francisco Torres, que foi governador por via indireta do Estado do Rio de Janeiro, presidente do Senado e deputado federal; e de Acurcio Torres, que foi deputado federal em várias legislaturas.

O jornal, que formou várias gerações de profissionais da imprensa, contava com uma forte cobertura da vida social niteroiense. Entre os colunistas que mais se destacaram estão Alarico Maciel, Carlos Ruas e Estela Prestes – a rainha das socialites.

Sobre Alberto Torres, Gilson Monteiro afirmou: “Na mais que centenária casa jornalística tive o privilégio de trabalhar ao lado de profissionais de alto nível e conviver de perto com o amigo Alberto Torres, diretor por uma vida inteira, dono de brilhante cultura, afável no trato que fazia questão de cumprimentar, quando chegava ou saía, todos os companheiros de trabalho, independentemente da função que exercessem”.

Gilson Monteiro relembrou ainda uma das principais características de Alberto Torres: o perfeccionismo. O velho Torres, segundo Monteiro, costumava sentar-se ao lado do editor Olegário Wangüestel Jr, com uma caneta Bic em mãos, para escrever “um texto perfeito e sem erros“, para isso, usava várias folhas de papel, uma vez que detestava máquinas de escrever.

A galharda história do veículo foi objeto de uma criteriosa pesquisa realizada por Emanoel de Macedo Soares. Mas, de acordo com o Gilson Monteiro, o material produzido, bem como a coleção de jornais e o arquivo fotográfico estão sem condições de consulta. “Perde-se, com isso, a história que O Fluminense registrou em suas páginas ao longo de mais de 14 décadas,” lamentou o colunista.

As informações são do colunista Gilson Monteiro.

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1 COMENTÁRIO

  1. Reparem que durante anos o jornal pertenceu a políticos (neste caso, de direita), com cargos eletivos no Poder Legislativo, o que, sob todos os pontos de vista da ética, é inquestionavelmente deplorável, dada a relação de forças. Entretanto, este fato é celebrado e os protagonistas são elevados à categoria de “baluartes” do bom jornalismo, que com sua atuação incansável contribuíram para o engrandecimento da nação. Fico me perguntando se a “jogação” de confete seria a mesma caso Luis Carlos Prestes tivesse sido o dono de um jornal de grande circulação, ou Miguel Arraes tivesse sido o dono de uma popular emissora de rádio, ou Leonel Brizola tivesse sido o dono de uma poderosa emissora de televisão. Fica a reflexão.

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