Como já dizia a canção, ”quem não gosta de samba, bom sujeito não é”. E, no Dia Nacional do Samba, celebrado nesta segunda-feira (02/12), o DIÁRIO DO RIO ressalta a importância deste gênero musical para o Rio de Janeiro. Trata-se de um ritmo representativo, que atinge os mais diferentes tipos de pessoas, como bem ressaltou o presidente da Associação de Blocos de Duque de Caxias e locutor da Acadêmicos do Grande Rio, Jean Caxias:
”O samba transmite sentimentos. Ele pega a tristeza e, com música, transforma em alegria. São várias formas de vida unidas pelo samba… um desfile de escola de samba é a dedicação de uma vida, é uma alegria sem tamanho”, afirmou.
Ele destacou ainda que percebeu a grandeza do Carnaval após o incêndio no barracão da Grande Rio: ”As outras escolas de samba, mesmo sendo concorrentes, se uniram para ajudar. Isso é samba… é união”.
Além disso, a paixão pelo Carnaval, um evento onde o samba ganha ainda mais força e visibilidade, vai passando dos pais para os filhos. É o caso de Tânia e Melissa Teixeira. A primeira começou a desfilar em 2012, enquanto que a segunda, sua filha, acabou se tornando uma admiradora da festa.
”Antes de participar, eu via apenas como telespectadora pela televisão em dia de desfile das escolas de samba, mas não tinha dimensão da riqueza cultural que envolve o mundo do samba. Em 2012, fui convidada para participar como componente da Grande Rio e vi o grande trabalho e toda organização que resulta na festa que vemos na TV. Também fiquei fascinada pelo respeito e união do povo de todas as classes sociais para a realização do desfile. Pude ver que esse mundo também gera muitos empregos para diversas pessoas. Vi diferentes histórias de vida que encontraram no samba uma maneira de esquecer um pouco as dificuldades da vida, mas cantavam com alegria o samba-enredo. Atrás das grandes fantasias glamorosas existiam pessoas que, mesmo por alguns minutos, se sentiam estrelas ao se apresentarem para mundo. Por gostar de todo o ambiente, segui desfilando até o ano de 2016 pela escola e depois continuei indo nos ensaios da rua e torcendo e assistindo pela televisão”, contou Tânia.
Já Melissa, foi imersa nesse mundo aos 13 anos, quando a mãe começou a desfilar: ”Conheci algo que só via pela televisão e sempre ficava encantada: as escolas de samba. Minha mãe começou a participar e eu sempre a acompanhava durante praticamente todos os ensaios. Durante todo esse tempo, pude conhecer melhor este mundo e soube o quão valioso é cada nota 10 recebida. Até hoje acompanho sempre que posso os ensaios na rua, escuto os sambas-enredos antigos, acompanho os desfiles na televisão e, claro, os dias emocionantes de apuração”.
Mas nem só de Carnaval vive o samba. Pelo contrário, o gênero é gigante, como afirmou Felipe Lucena, jornalista do DIÁRIO DO RIO.
”O samba é um dos gêneros musicais mais importantes não só do Brasil, do Rio de Janeiro, mas do mundo. Mesmo quem não gosta tanto do gênero musical tem algum momento da vida relacionado às músicas. Para mim, são muitas as lembranças. Das músicas tocando na infância, dos desfiles na Sapucaí, das muitas rodas de samba que fui e, claro, do Carnaval. Quase sempre memórias ligadas à diversão, alegria. Mas algumas tristezas também. Faz parte e tem muito samba bom para curtir momentos ruins. Enfim, o samba é trilha sonora para toda hora. Para todo mundo. Como diz a música do Reinaldo: samba é terapia popular”, afirmou.
Como ele, que se sente representado pelo gênero musical, existem muitos cariocas. Isabela Ferreira conta que o samba lhe lembra sua família: ”Minha família por parte de mãe gosta de samba, então sempre rolava um sambinha ou pagodinho nos churrascos da família. Raça Negra, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Arlindo Cruz… Então tenho essa coisa do samba ser como parte da família, de me sentir em casa”.
A fotógrafa Ana Paula Gomes afirma que, para ela, o samba vai além de um simples ritmo: ”Acredito que seja algo de outras vidas. O som e algumas letras me fazem arrepiar sem querer”.
”A minha família não tinha muita ligação com o samba, pois meus pais são nordestinos e vieram para o Rio mais velhos. Mas, mesmo assim, minha mãe acabou conhecendo e passando esse gosto para mim. Desde pequena, lembro dela apaixonada pela portela. Todo carnaval era certo ficar acordada até tarde para ver o desfile. Como disse anteriormente, cresci e esse gosto pelo samba foi só se renovando e descobrir as histórias por trás desse ritmo só me faz gostar mais”, complementou.
Já a administradora Cintya Silva, como uma jovem negra, se vê representada no ritmo: ”Atualmente, eu tenho ouvido ainda mais samba que o normal. Eu cresci, tive aquela fase adolescente que gosta de rock, mas depois que passou essa fase eu voltei a ouvir mais e hoje vivo em rodas de samba. É um contato muito forte com as minhas raízes, porque eu sou uma mulher preta, pobre, periférica, e quando eu estou no samba, eu me identifico com as outras pessoas que estão ali. A representatividade do samba vai muito além de uma música”.
Ela também contou que o ritmo musical desperta nela lembranças da infância: ”Como a maioria das pessoas pobres que gostam de samba, meu contato começou na região onde eu morava, porque todo mundo ouvia muito e desde criança fui acostumada. Uma lembrança que eu tenho marcada é que, quando eu estou ouvindo samba, eu volto há um tempo atrás, quando eu era criança e estava em casa. Eu lembro um sábado, eu tomando banho de chuveirão, minha mãe com a manicure em casa, fazendo unha, e tocando Alcione. É uma lembrança muito gostosa da minha infância e bem marcante para mim”.
Marroni Alves, colunista do DIÁRIO DO RIO, também contou sobre o início de sua paixão pelo samba, ainda na infância:
”Minha história com samba tem ligação com minha madrinha. Ainda criança, jogamos dama, baralho, dominó e em fitas ela ia colocando músicas da Beth Carvalho, Agepê, Jorge Aragão, Leci Brandão, Jovelina para escutarmos. Mas a paixão e a fissura estava mesmo nos sambas de enredo, principalmente os da Portela. Contos de Areia, Lendas e Mistérios da Amazônia, Hoje tem Marmelada e por aí vai. Também ouvia muito os do Salgueiro Xica da Silva, Bahia de todos os deuses. Foi assim que me apaixonei pelo samba e pelo carnaval. Aprendendo a ouvir os sambas antigos das escolas de samba num velho rádio de fita com a minha madrinha portelense Maurinete. Salve a Portela e o samba”, afirmou.
Ex-secretário municipal de Turismo do Rio, Bruno Kazuhiro afirmou, por sua vez, que o samba faz parte da memória afetiva dos cariocas e de diversos momentos da história da cidade.
”É uma das principais manifestações culturais que a nossa cidade tem, uma manifestação nascida no subúrbio e que depois foi abraçada pelas elites, mas que começou como uma espécie de resistência. Através do samba, muitas pessoas se profissionalizam e ganham a vida. O samba e o Carnaval viraram uma atividade econômica fundamental para a nossa cidade, portanto são patrimônios imateriais do Rio e dão contribuições à nossa cultura e à nossa economia que são imensuráveis”, afirmou.
Parte fundamental da cultura carioca, o samba é representatividade, é inclusão e transmite felicidade. É um ritmo musical que representa bem o que de melhor tem no Rio de Janeiro: beleza e alegria.
A canção diz ”não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”. Pode ficar tranquila, Alcione, porque, no que depender dos cariocas, o samba não morre nunca.
Samba, subgênero que saiu do Choro: exaltado.
Choro, gênero musical por excelência do Rio: esquecido.