Dia Nacional do Choro e as Rodas de Choro nas praças do Rio

O Choro ou simplesmente Chorinho, conhecido em todo o Brasil, está associado diretamente à cultura carioca

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O Dia Nacional do Choro foi comemorado em 23 de abril, em homenagem à provável data de nascimento de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, grande mestre que tive a satisfação de conhecer,pois morávamos no mesmo bairro. Meninos, sabíamos da sua fama e sua simplicidade, sentado no botequim da esquina, camisa de pijama, pronto para um dedo de prosa.

Além disso, no dia 29 de fevereiro de 2024, este gênero musical genuinamente nacional foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, inscrito no Livro das Formas de Expressão.

O Choro ou simplesmente Chorinho, conhecido em todo o Brasil, está associado diretamente à cultura carioca.  A tradição indica que este gênero musical começou no Rio de Janeiro, quando ainda era conhecido como “A Corte”, no período imperial.

Devido à sua importância política, comercial e provida de um porto com grande movimentação, a cidade abrigava influências culturais diversificadas, originárias de diversos recantos do mundo, associadas às etnias formadoras do povo brasileiro.

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Os salões da corte tocavam valsas, polcas, maxixes. As ruas entoavam sambas, jongos, modinhas, uma fusão de ritmos africanos e indígenas. Os músicos, atentos às novidades, buscaram incorporar tais manifestações, uma geleia ideal para a criação do Choro.

Segundo o relatório técnico integrante do processo para registro do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil, de fevereiro de 2023, as primeiras referências ao termo apareceram na década de 1890. Em 07 de março de 1896, o jornal Dom Quixote, publicava uma nota intitulada “Choro”, na qual informava que“os rapazes aqui da cidade, a troupe masculina mundana desta capital, denominam aos bailes da série B um pequeno choro”

Tinhorão, em sua Pequena História da Música Popular Brasileira, indica que esse gênero surgiu na segunda metade do século XIX como uma expressão particular de tocar, no qual os músicos incluíam improvisações em seus instrumentos – flauta, cavaquinho e violão – produzindo uma sonoridade muito característica, plangente, triste como um choro.

Posteriormente, outros instrumentos foram incorporados, dependendo dos ambientes e situações: bandolins, violões sete cordas, pandeiros, clarinetes. 

O gênero se difundiu, adotado por músicos com formação clássica, apresentando-o para todas as classes sociais a partir do início do século XX, através de instrumentistas consagrados como Ernesto Nazareth, Waldir Azevedo e Pixinguinha, que se tornou seu patrono, com a data de seu aniversário celebrada como o Dia Nacional do Chorinho.

O Choro, executado em roda, com músicos diversos participando espontaneamente, ganhou botequins, praças, ocupou as primeiras emissoras de rádio e alguns palcos notáveis da cidade.

Os Oito Batutas, conjunto musical formado por Pixinguinha, Donga e outros seis companheiros, criado em 1919, ultrapassou as fronteiras nacionais, se apresentando em Paris, executando chorinhos, maxixes, batuques e outros gêneros nacionais.

No entanto, as praças conseguiram ultrapassar o século e preservar sua tradição de cenário popular para o Choro. Quando essa música recupera seu espaço, resgata a valorização do gênero que nasceu nessa cidade. Suas notas plangentes podem revelar a essência da formação carioca, vindo de “três raças muitos tristes”, como cantou o poeta Vinícius, transbordando em sonoridade e alegria.

?Presente no cotidiano do Rio de Janeiro desde as últimas décadas do século XIX, a prefeitura da cidade já havia implementado, em 2019, otombamento de natureza imaterial, de valor cultural, a Roda de Choro Arruma o Coreto, realizada aos domingos na Praça São Salvador, no bairro de Laranjeiras. 

No entanto, outras rodas se distribuem por diversos bairros, algumas delas ganhando destaque pela sua repercussão e aceitação por moradores locais, além de atrair visitantes de outros recantos, por vezes nem tão perto.

A Roda de Choro do Recreio, realizada aos domingos, há sete anos, na Praça Augusto Ruschi no bairro do Recreio dos Bandeirantes, objeto de umpedido recente de tombamento, espera tratamento semelhante ao concedido àquela roda na Zona Sul. Enquanto isso, assiste à tramitação do processo junto à Câmara de Vereadores, aguardando celeridade nessa decisão.

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Foto: Acervo Marcio Rondon

 Conforme depoimento de seus participantes, começou por causa da afinidade de alguns vizinhosem torno daquele gênero musical. Enquanto passeava com seu cão por aquela praça, um morador, Sr. Marcio Rondon, ouviu um som de flautapreenchendo o ar, vindo da sombra de uma árvore. Eram acordes de um chorinho, um Pã tropical, Sr. Pedro Fontes, executando uma melodia tão carioca.

Aquela primeira conversa revelou algo em comum, pois ambos, além de apreciadores de choro e samba, estudavam na Escola Portátil de Música, na Urca, criada por músicos em 2000, considerada uma das maiores referências no ensino do choro do país. Ministram aulas de instrumentos, apreciaçãomusical, história do choro, harmonia, arranjo, composição, aprendizagem coletiva. O encontro tornou-se a semente para uma roda local.

Através da propaganda boca a boca, surgiram outros interessados para apreciar ou tocar junto àqueles músicos, à sombra de um belo e frondosoalgodoeiro-da-praia, a céu aberto, “enchendo de som o ar”, como a Cigarra, de Milton Nascimento.

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Com o tempo, músicos de todas as idades, origens e níveis de habilidade se reúnem na praça na Praça Augusto Ruschi, no Recreio dos Bandeirantes, para formar a Roda de Choro do Recreio. Amadores e profissionais, jovens e idosos, todos são bem-vindos, uma diversidade que reflete a natureza cosmopolita da cidade, onde culturas se entrelaçam se comunicando pela música, linguagem universal, aguardando seu tombamento pelo poder municipal.

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Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.
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