A malha ferroviária do Rio de Janeiro é o ponto de partida de “Viagem ao Vão”, primeira individual do cearense Diego de Santos na cidade. Com curadoria de Fernanda Lopes, a mostra ocupa a C. Galeria, no Jardim Botânico com pinturas e instalações.
Em sua cidade, Caucaia, localizada na região metropolitana de Fortaleza, o meio de transporte não fazia parte de seu cotidiano. Quando veio morar no Rio, especificamente no Méier, o trem passou a ser o principal meio de deslocamento de Diego.
“Partiu do trem o interesse em pensar questões que eu já abordava na minha produção: a noção de morada e o deslocamento. Eu sempre morei em subúrbio, em bairros mais distantes dos centros e áreas nobres. Isso implica naturalmente em deslocar-se. Ao entender esses movimentos como possível proposição artística me levou a viajar de trem, por todos os ramais, na condição de artista pesquisador também”, explica o artista.
Ao entrar na C. Galeria, o público se depara com parte do chão preenchido por pedrinhas, em referência à faixa de lastro (camada de pedras que serve para dar estabilidade aos trilhos em relação ao solo e aos trens em movimento). Ao contrário dos trens, ao mover-se no piso formado desses fragmentos não-fixos, a sensação é de instabilidade.
Já nas três salas expositivas estão pequenas pinturas feitas com lápis de cor sobre compensado, que trazem elementos cotidianos como caixas d’água, antenas, tapumes de obras e fios elétricos. Uma instalação destaca os isopores dos ambulantes.
“Fui percebendo as inúmeras formas de integração que se dão entre o trem e a cidade. O espaço de domínio da ferrovia, a faixa de lastro, só funciona até certa altura da malha. Quanto mais se adentra, mais a cidade se apropria desse lugar de passagem e de acesso proibido. Aí as duas paisagens se combinam por meio de apropriações clandestinas, mas necessárias. Então é possível ver muita gente habitando a faixa de lastro de várias maneiras, seja atravessando, estabelecendo morada ou comércios como oficina de bicicletas, cabeleireiro e venda de bebidas alcoólicas”, completa.
Em seu texto crítico, a curadora destaca que a produção de Diego nos chama atenção para fenômenos urbanos, invisibilizados pelo cotidiano, e sua construção não só arquitetônica, mas especialmente histórica, econômica e social.
A mostra vai até o dia 29/11. A C.galeria fica na Rua Visconde de Carandaí, 19 – Jardim Botânico. Funcionamento: de terça a sexta, de 11h às 19h. Entrada gratuita.