O último capítulo da presidência de Dilma Rousseff deu a todos a sensação de que o desfecho do processo de impeachment, cada vez mais próximo, é justo e devido. Reconheça-se que Dilma teve a coragem de enfrentar os questionamentos dos senadores. Contudo, seu depoimento provou, mais ainda, que não possui – e talvez nunca tenha possuído – condições de presidir um país tão complexo como o Brasil. Além disso, mostrou que não existem argumentos técnicos e jurídicos que possam, de fato, desmentir que ela tenha cometido crimes de responsabilidade que ensejem o impedimento. Restou a Dilma fazer – ou tentar fazer – o inútil enfrentamento político.
Dilma culpou diversos motivos como causadores da péssima situação econômica brasileira, mas não admitiu que ocultou dos brasileiros, na campanha de 2014, os problemas vindouros. A Presidente afastada alegou que a crise internacional foi enorme e que o Brasil foi atingido. Mas não foi essa mesma crise que Lula chamou de marolinha?
Dilma não defendeu a Justiça, não aplaudiu o combate à corrupção, não repreendeu aliados que cometeram desvios, não pediu desculpas por nada a não ser o pouco diálogo com o Parlamento. Enfim, falou apenas para os seus e repetiu os argumentos malfadados que seus advogados utilizaram nos últimos meses.
A impressão que fica é a de que Dilma fez um discurso que muito mais registrou pontos simbólicos e tentou construir uma narrativa e um final heróico para o seu capítulo biográfico. Ela não se propôs a apresentar uma defesa consistente, apenas disse que outros presidentes também erraram, tentando nivelar a todos por baixo, como o PT sempre fez.
Em nenhum momento Dilma respondeu a questionamentos sobre o que faria pelo Brasil se fosse absolvida, mostrando que essa hipótese nem foi considerada. Ao contrário, mesmo com diferentes perguntas, a Presidente apresentava as mesmas respostas, repetindo umas cinco ou seis linhas de raciocínio pré-concebidas e que a colocam como uma injustiçada.
Parece que Dilma quis apenas marcar uma suposta posição política e ideológica pois sabe que, em algumas horas, se despedirá de um cargo que ela não soube ocupar.