DJ Julio EleMesmo: Isso não é uma propaganda do Bip-Bip

Imagina o lugar mais confortável do mundo, com atendimento de primeira linha, ambiente tranquilo e aconchegante para conversar e dar aquela namorada. Imaginou? Então esquece isso quando for ao BIP-BIP.

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Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que esse texto não é uma propaganda do BIP-BIP. Quem conhece o singelo bar de Copacabana sabe que não dá para fazer propaganda de um lugar que não se pode aplaudir os músicos, que você é seu próprio garçom e que, em tempos áureos, nem todo tipo de perfume era aceito. Alias, quem conhece o Bip-Bip mesmo sabe que essas informações precisam ser sempre lembradas justamente para que o charme do patriarca Alfredinho siga pelas paredes politizadas daquele cômodo da boemia carioca. O que encanta no Bip-Bip é justamente o fato de que poucos se encantam como o Bip-Bip, o que torna a paixão – e a devoção – única.

Minha história com o Bip-Bip se deu na pandemia, dando suporte nas lives para o meu camarada e colega de trabalho, Tiago Prata, o Pratinha, um violinista de sete cordas que encantada tanto quanto uma Brahma gelada num copo americano. E quem assistia as lives do Bip-Bip, que, por adentrarem a madrugada, eu dava um jeito de pular fora cedo, sabe o quão especiais eram aqueles momentos. Quem não viu a live dedicada ao gênio Aldir Blanc, após a sua desencarnação, perdeu um dos momentos mais lindos da internet pandêmica. Falo que o Pratinha e a Teresa Cristina foram os mais importantes artistas da cultura carioca durante a pandemia por conta das belíssimas apresentações virtuais e aquecidas nas almas que eles faziam enquanto a gente mal poderia se abraçar.

Mas voltemos a falar do Bip. Pra quem não sabe, o Bip-Bip é um barzinho que fica na Rua Almirante Gonçalves. É praticamente uma saleta que mal cabem os músicos, com um corredorzinho na lateral que dá para os fundos onde ficam as geladeiras para o self-service, meio punhado de garrafas, copos (pegou o copo? Lava) e o banheiro. Na entrada, um caixa que funciona na base da confiança: pegou a bebida, vai lá, dá seu nome e eles anotam. No final, você paga. E se não pagar, Alfredinho aparece de noite pra puxar o seu pé.

A programação é variada. De permante, só os esporros  em algum desavisado que ficava batendo palmas (por causa da vizinhança, as aclamações aos músicos se limitam em estalar de dedos). Hoje você tem chorinho na terça, bossa nova na quarta, samba de quinta à domingo e segunda… vai pro Andaraí curtir o Samba do Trabalhador e aproveita pra aplaudir. Apesar do único ‘barulho’ bem vindo no Bip ser dos músicos, tem o lado bom. Por lá você pode dar a sorte de ver ocasionalmente um João Bosco, uma Teresa Cristina, um Elton Medeiros… Até um Antônio Martins. MAS QUEM É ANTONIO MARTINS?

Ora! Antonio Martins é meu querido sogro, um músico de primeira linha, sem a fama que merece, mas famoso e talentoso para mim a ponto de estar nesse artigo. Falo isso porque é mais um daqueles encontros que só o Bip-Bip pode causar. Estávamos minha esposa e eu, na época namorada, Maíra Gama, numa lanchonete para que ela me apresentasse para seu pai e sua madrasta. Papo vai, papo vem, tento quebrar o gelo com Antônio – o sogro , que ainda ainda meio fechado. Daí eu começo a achar o rosto dele familiar e começo com aquele “Da onde eu te conheço?”. E não é que ele era músico do Bip-Bip, um dos poucos lugares que eu ainda me atrevia a freqüentar pós pandemia. Dali a amizade já bateu e hoje ele me acompanha mais nas rodas de samba do que minha esposa. Mas tal qual esse texto não é uma propaganda do Bip, esse parágrafo não é uma puxação de saco! Quem quiser conferir o talento desse MONSTRO DA MÚSICA NORTE FLUMINENSE basta ir nas terças e quartas vê-lo dedilhar um chorinho aqui, uma bossa acolá.

E se você quiser conhecer o Bip-Bip, mesmo depois de tudo que eu escrevi aqui, ouvir (calado) músicos talentosíssimos entoando o que há de mais lindo na música popular botequeira (leia de novo), se servir para pegar cerveja ou ficar bico cego, o Largo do Alfredinho, na rua Almirante Gonçalves, 50, em Copacabana te espera. Lembrando que a roda de samba acontece de quinta a domingo, o choro é terça-feira e a bossa-nova nas quartas, sempre a partir das 20h. E chega cedo porque não vai até tarde não, porque os vizinhos precisam dormir. Ah! Nada de perfume muito forte, ok? Então… partiu?

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