Para quem não curte Carnaval e quer aproveitar para assistir alguns filmes que foram indicados ao Oscar, o documentário Democracia em Vertigem é a dica do Canal Like desta semana.
Muitos cineastas preferem esperar a poeira da História baixar pra poder abordar episódios complexos com distanciamento crítico, já que correm o risco de atingir o nervo exposto de questões espinhosas. Outros realizadores acham justamente o contrário: o ideal é aproveitar o calor do momento pra investigar com frescor e energia a dinâmica avassaladora do desenrolar dos fatos políticos que afetam a todos nós.
Foi com esse espírito inquieto e perplexo que a diretora mineira Petra Costa se propôs a passar em revista a História recente do Brasil em seu já cultuado documentário “Democracia em Vertigem”. Esse documentário político traz muitas memórias pessoais de Petra. A cineasta acompanhou as manifestações de junho de 2013, o impeachment de Dilma, a prisão de Lula, a eleição de Jair Bolsonaro e a selvagem polarização do país.
A própria diretora vive na pele essa polarização. Seus avós, donos de empreiteira, pertencem à extrema direita e são defensores de Bolsonaro. Já seus pais, foram militantes de esquerda e perseguidos pela ditadura. O filme conta com imagens internas e exclusivas dos bastidores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista e do Palácio da Alvorada enquanto ocorria a votação pra queda da Dilma.
A produção analisa o papel de Lula como o símbolo da ascensão da classe trabalhadora ao poder e o desafio de se tentar um governo conciliatório no cenário político nacional. “Democracia em Vertigem” registra a passagem do otimismo dos anos 2000 para o desamparo da estagnação financeira, com crise econômica e recessão.
Petra Costa não posa de dona da verdade. Ela assume que está sendo subjetiva ao se posicionar como narradora. Inclusive entrevista a própria mãe e compartilha suas dúvidas e incertezas com o público. Formada em Antropologia e com Mestrado em Comunidade e Desenvolvimento, Petra é uma diretora com filmes que são conhecidos por seu caráter ensaístico. Ela costuma fazer temas íntimos e pessoais dialogarem com questões sociais e políticas. Um de seus longas anteriores, “Elena”, foi um documentário sobre sua irmã mais velha. Elena deixou a infância vivida na clandestinidade, no Brasil da ditadura, pra tentar realizar o sonho de se tornar uma atriz em Nova York. Vinte anos depois, Petra partiu atrás de memórias dela. Esse documentário emocionante foi lançado nos Estados Unidos com produção executiva de Fernando Meirelles e Tim Robbins
Já “Democracia em Vertigem”, que entrou pra tradicional lista de melhores filmes do ano do New York Times, foi produzido por Joanna Natasegara, vencedora do Oscar de Melhor Documentário em curta-metragem com “Os Capacetes Brancos”.
Os filmes de Petra Costa carregam influência de vários diretores que transitaram pela ficção e o documentário. Algumas de suas referências são o italiano Gillo Pontecorvo, o francês Chris Marker , o chileno Patricio Gusmán e a belga Agnès Varda. Por isso o seu cinema documental é tão emocionante e provocativo. Ao explicar o título de seu documentário, a jovem diretora diz que a vertigem é essa sensação de perder a noção onde as coisas começam e onde elas terminam; onde você está em relação ao mundo e onde o mundo está em relação a você.
Dica do Canal Like
Programa: Democracia em Vertigem
Onde: Netflix
Que pessima sugestão