Na Ditadura Civil-Militar, membros da Igreja Católica também eram vítimas de violência de grupos contrários ao processo de abertura política do país. Aqui no Rio de Janeiro, Dom Adriano Hypólito foi um dos poucos bispos à colocar-se publicamente contra os anos de chumbo. Foi bispo da Diocese de Nova Iguaçu entre 1966 à 1994, quando completou 75 anos e tornou-se Bispo Emérito.
Nasceu em Sergipe, batizado Fernando, frade franciscano, foi ordenado em Salvador em 1942 e adotou Adriano. Tinha habilidades na música, na poesia onde cultivava amizade com Manuel Bandeira e era um exímio orador.
Dom Adriano, chegou na Baixada e escolheu os mais pobres, a defesa dos direitos humanos, defendia que todos deveriam ter os mesmos direitos, oportunidades e que fossem compreendidos. Não agradou os ouvidos dos militares e recebeu como penitência, uma intensa perseguição para silenciar sua atuação.
Nos anos mais duros da Ditadura, dom Adriano, foi figura importante para a história, a Igreja Católica e as lutas sociais da Baixada Fluminense. Atuou com rigor em relação à violência. A frente da diocese de Nova Iguaçu “acolheu” perseguidos políticos, em alguns casos empregando-os na estrutura diocesana, atuou como articulador de diferentes lideranças dos bairros onde a Igreja estava inserida.
Ao defender os excluídos, pobres, trabalhadores, recebeu diversas ameaças que culminaram em um sequestro por seis homens em 1976. Foi espancado e abandonado nu em um matagal de Jacarepaguá com o corpo todo pichado de vermelho. Os militares definiam dom Adriano como comunista. Seu fusca, foi levado para frente da CNBB e explodido.
O bispo foi ameaçado de morte e chegou a ser aconselhado por amigos e até por superiores a deixar a Baixada, mas ele resistiu.
— Eu não ia dar esse gosto aos meus sequestradores. O sequestro, não tenho dúvidas, foi organizado por militares da linha-dura, mas o inquérito jamais apontou responsáveis. Fui encapuzado, algemado e levado num carro, que passou pelo menos duas vezes pela Vila Militar. Tiraram minha roupa e, depois de me baterem, me pintaram com um spray vermelho, sempre me acusando de ser comunista. Eu estava preparado para morrer, mas, como eles mesmos disseram, foi só uma lição — contou dom Adriano Hypólito, em entrevista ao GLOBO publicada na edição de 13 de novembro de 1994.
As ameaças a dom Adriano, no entanto, não cessaram. Crítico do regime autoritário e classificado como um dos “bispos vermelhos” por militares da linha-dura, um ano após o seu sequestro dom Adriano Hypólito viveu outra intimidação de agentes da ditadura. Em 1977, homens armados até com metralhadora invadiram o Centro de Formação de Líderes da Igreja, em Nova Iguaçu — que hoje guarda o acervo do bispo — e impediram a realização de congresso sobre direitos humanos.
Em meio a novas ameaças de sequestro, a escalada das ações terroristas registrou ainda duas outras ações que marcaram a Baixada Fluminense. No dia 9 de novembro de 1979, a Catedral de Santo Antônio de Jacutinga, sede da Diocese da cidade, e a igreja do bairro da Prata amanheceram pichadas com frases escritas com tinta spray vermelha: “Aqui sede do PCB” e “ O bispo é comunista”, entre outras injúrias contra dom Adriano. E no dia 20 de dezembro de 1979, uma bomba explodiu no altar da catedral da Diocese. Ouvida num raio de um quilômetro, a explosão destruiu portas, janelas e o sacrário, ferindo levemente um operário que montava um presépio de Natal.
Após a Ditadura, seguiu seu trabalho de combate à violência. Os crimes cometidos pelo Esquadrão da Morte, tinham cobranças duras de Dom Adriano que questionava diretamente das autoridades investigações, elucidação e punição dos culpados. Assim, dom Adriano, contrariava a tese que o esquadrão atuava para eliminar marginais.
Em 1993, Dom Adriano inaugura o Centro de Direito Humanos. Em 10 de Agosto de 1996, dia de São Lourenço, aquele que ao ser intimado pelo imperador romano Valeriano a apresentar os tesouros da Igreja, encheu o palácio de pobres, dizendo: “Eis o tesouro da Igreja”, a Baixada Fluminense e o Brasil perdiam Dom Adriano Hypólito.
Em 2018, houve comemorações pela passagem de seu Centenário de Nascimento. Missas, exposições, palestras e diversas atividades foram realizadas para lembrar sua obra social que inclui pastorais em apoio a meninos de rua, mulheres marginalizadas e luta pelos excluídos da Baixada.
Nestes tempos onde as figuras da Baixada são de políticos que exploravam a miséria e medo do povo, sua memória em defesa dos direitos dos pobres, dos oprimidos e da Baixada Fluminense, precisam ser lembradas sempre. Por trás da batina, houve um herói! Dom Adriano Hipólito sempre terminava suas celebrações com a seguinte saudação: “ Viva Jesus Cristo…Viva Maria nossa Mãe Santíssima…Viva nosso povo sofrido da Baixada”. E eu, exclamo: Viva Dom Adriano!
Fontes usadas: Jornal O Globo, Jornal Hoje.