A artista visual sergipana radicada no Rio de Janeiro, Cibele Nogueira (1988), apresenta
sua primeira exposição individual “corpo-pedra-corpo-terra”, no Memorial Getúlio Vargas,
na Glória. Com curadoria de Shannon Botelho, a mostra reúne cerca de obras produzidas
a partir de fotografias da Área de Proteção Ambiental de Cairuçu, região da Mata
Atlântica.
A natureza clicada foi posta em perspectiva posteriormente, por meio do corte, colagem,
manipulação das imagens e uso de papel metalizado. A ideia foi reconstruir aquelas
memórias, em uma ideação da paisagem natural. Segundo o curador, a pesquisa de
Cibele gira em torno da transformação/ destruição das paisagens e dos seres como um
reflexo dos hábitos destrutivos da sociedade.
Conta a artista: “Nessa série em específico, retrato a Mata Atlântica em rasgos, mas
poderia ser a Amazônia, ou a própria cidade do Rio de Janeiro. É uma destruição e uma
construção a partir dos pedaços, que criam novas camadas e nós fazemos parte dessas
camadas. É um convite a pensar sobre o que não deveria ser destruído”.
Trajetória
Cibele Nogueira transita entre o digital e o analógico para produzir colagens, videoarte e
instalações. E é no momento da experimentação que ela se vê no estado de estar e ser
artista. “Observo o mundo e experimento poéticas para trazer algum tipo de
encantamento, ou pensamentos. Para estabelecer algum tipo de diálogo ou conexão”.
O Rio de Janeiro faz parte do processo criativo da artista. “Minha criação começa no
movimento, no deslocamento pela cidade. Eu corro, o que pra mim é uma espécie de
meditação. Muita coisa acontece, muitas ideias e questionamentos vão surgindo.
Principalmente, a respeito da paisagem, que mais tem me interessado na minha pesquisa
ultimamente”.
A partir disso, ela vai para o ateliê, que pode ser qualquer lugar que estiver e trabalha nos
seus cadernos. Cibele está sempre anotando, desenhando e projetando o que será
executado. São frases, desenhos, recortes de ideias que de alguma forma depois se
conectam. “Eu digo que carrego o ateliê comigo, porque tem muito do trabalho que
acontece em movimento, em cadernos ou em áudios, vídeos e fotografias dentro do meu
telefone enquanto a vida está acontecendo. Experimentar é o mais importante. O
processo, o caminho é mais importante que o resultado”, afirma.
Corpo-pedra-corpo-terra
A série em exibição no Memorial Getúlio Vargas foi iniciada em 2020, em uma viagem que
a artista fez à Paraty. “Passar 15 dias na Mata Atlântica abriu um portal para pensar a
paisagem, a memória e diria até que o fim da humanidade. Porque é isso que vai
acontecer se não pararmos de nos entender como únicos seres importantes desse
planeta. Se natureza acabar, acabaremos juntos, mas ela volta, enquanto nós…bem, eu
já não sei”, profetiza.
“A partir da minha experiência na Mata e pensando que tudo poderia acabar a qualquer
momento, me senti pequena diante daquilo tudo. Quando voltei da viagem, imprimi muitas
fotografias feitas naquele período e comecei a recortar, rasgar, compôr novas paisagens.
São paisagens rasgadas, feridas como o planeta”, explica.
Recentemente, a artista começou a experimentar elementos tridimensionais na colagem.
Então além das obras, a artista colocou ramos, folhas e outros resquícios da natureza no
espaço expositivo.
“Os galhos invertidos foram colocados para representar as raízes, rizomas, da onde tudo
parte, se ramifica e cresce. Como experimentação, olho para eles de forma até mais
cenográfica, mas certamente é uma primeira tentativa de trazer elementos mais
sensoriais e que saltem ou fujam das molduras”.
A mostra “corpo-pedra-corpo-terra” tem curadoria de Shannon Botelho e vai até 9 de
setembro. O Memorial Municipal Getúlio Vargas fica na Praça Luiz de Camões s/n,
subsolo, Glória. Funcionamento de quinta a domingo, de 10h às 17h. Entrada gratuita.