O envelhecimento populacional no Brasil revela um aspecto que merece reflexão: na faixa acima dos 65 anos, o número de mulheres – 12 milhões – é cerca de 10% superior ao de homens. Mais cuidadosas com a saúde e menos expostas à violência, elas têm uma expectativa de vida até oito anos maior. Essa diferença, que tende a aumentar, implica uma crescente demanda por tratamento das doenças mais comuns entre elas, exigindo que nosso sistema de saúde se adapte, com uma ênfase especial na prevenção.
Uma dessas enfermidades é o câncer de mama, o segundo mais frequente entre elas, com quase 30% dos casos, e de longe o mais perigoso: em 2022, foi responsável por cerca de 19 mil mortes, contra pouco mais de nove mil 20 anos antes. Além da alta em números absolutos, a variação da taxa de letalidade no período – de 9,9 para 17,5 por 100 mil habitantes – também impressiona, tendo ocorrido com mais força na faixa acima dos 65 anos. Entre as causas, obesidade, inatividade física e o próprio processo de envelhecimento, que deixa as células mais suscetíveis a mutações.
Reduzir esses índices passa pela prevenção primária e detecção precoce. Uma rotina saudável, com alimentação equilibrada, exercícios regulares e, se possível, sem tabaco e álcool, diminui o risco de desenvolver a doença. Identificá-la o mais cedo possível, pelo autoexame ou mamografia, eleva consideravelmente a chance de sucesso do tratamento. Ações e atitudes, como vemos, relativamente simples, que começam no esclarecimento da população sobre o assunto. Neste sentido, alertar sobre os sinais e sintomas mais frequentes deste tipo de câncer é fundamental.
Eles se manifestam, basicamente, através da presença de um ou mais nódulos, geralmente duros, fixos e indolores, nas mamas ou mesmo na região do pescoço e axilas, de alterações em seu formato ou tamanho, pele avermelhada, com textura semelhante à da casca de laranja, ou secreção de líquido – especialmente sangue – através dos mamilos. Essas mudanças podem ser detectadas pela própria mulher, no banho ou outra situação de conforto, e devem ser relatadas rapidamente ao médico. Um momento de autocuidado que pode salvar sua vida.
Além da atenção ao próprio corpo, recomenda-se que, entre os 50 e 69 anos, mulheres sem fatores de risco adicionais – como histórico familiar ou mutações genéticas conhecidas – se submetam a uma mamografia bienal. O exame pode ajudá-las a identificar o câncer antes mesmo da manifestação dos sintomas. Esta periodicidade, padrão na maioria dos países que têm no rastreamento precoce da doença um dos pilares da política de prevenção, tem benefícios cientificamente comprovados na efetividade do tratamento, permitindo uma redução da mortalidade e maior sobrevida a esse grupo.
O câncer do colo do útero também merece atenção, principalmente por ser 100% prevenível, tanto através da estratégia de rastreamento quanto pela vacinação contra o vírus HPV, cujos subtipos 16 e 18 respondem por 70% das infecções que levam ao desenvolvimento da enfermidade. A detecção é feita com exames como o Papanicolau e o teste de HPV, e a vacina deve ser aplicada em meninas e meninos entre nove e 14 anos, pois se mostra mais eficaz se recebida antes do início da vida sexual.
O esclarecimento e a prevenção a essas doenças, objetivos do Outubro Rosa, ajudarão o país a enfrentar com mais efetividade o aumento no número de casos das mesmas, fruto indesejado porém inevitável da nova composição de nossa pirâmide etária. Um fenômeno, claro, que merece ser celebrado, pois indica uma melhora, ainda que tímida, em nossos indicadores sociais, mas que, como toda mudança, exige ajustes e desvios de rota. População informada e profissionais capacitados são elementos cruciais nesse processo.
*Jorge Jaber é psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), membro da Academia Nacional de Medicina