No início de abril, a escritora Roseana Murray teve o braço direito amputado após ser atacada por pitbulls na cidade de Saquarema. Uma semana antes, um menino de nove anos foi mordido, também por um pitbull, e teve que receber mais de vinte pontos. O animal estava solto na rua, em Bangu, e segundo relato da mãe do menino, o cão estava abandonado há mais de dois meses e deixava as crianças com medo porque corria atrás da bola quando elas jogavam futebol.
No dia 29 de abril, mais um acidente com um animal da raça. Dessa vez, um promotor de Justiça ficou ferido após ser atacado por um cachorro durante uma operação de demolição de prédios irregulares na ilha da Gigóia. Os acidentes causados por animais da raça também atingem outros cães. Também em abril, uma cadelinha foi atacada por três na Pavuna e teve complicações por causa dos ferimentos. Segundo a tutora, os animais não estavam com focinheiras, como determina a lei.
E o que todos esses acidentes têm em comum? A falta de responsabilidade dos tutores. A culpa nunca é dos animais!
Ao assumir a responsabilidade de ser um tutor, a pessoa deve ficar atenta aos cuidados que cada animal necessita para a segurança dos bichos e para as pessoas ao redor. Também é preciso seguir o que determina a lei estadual, que desde 2005 exige o uso de focinheira e guia para algumas raças de cães. Lembrando que tenho também um projeto de lei que estabelece pena de multa para os tutores que circularem com animais, potencialmente perigosos, sem guia e focinheira em locais públicos.
Porém, nada adianta termos Leis, se alguns tutores de animais com comportamento agressivo continuarem negligentes. Não podemos condenar uma raça, por causa de tutores que não cuidam dos animais, não socializam os animais no convívio com outros humanos e, também não preparam suas residências para receber animais e evitar fugas. E, por fim, tutores que insistem em não usar focinheira e guias em seus cães.
Por falta de cuidados necessários para ser tutor de cães como o pitbull, eles são os que mais estão sofrendo represálias e maus-tratos. Apenas no meu gabinete, neste ano de 2024, recebemos quase uma centena de chamados envolvendo a raça. E, infelizmente, quando surge um problema com o cão, muitas pessoas preferem optar por abandoná-los. Esses animais estão sofrendo duas vezes. Sofrem por não terem um tutor que garanta segurança, socialização, alimentação e saúde. E, ao serem abandonados, sofrem mais uma vez, tendo que encarar a privação dos cuidados básicos, a desconfiança e agressões por parte de outros seres humanos.
Por isso, reafirmo que não é com violência contra o pitbull, ou proibindo a raça que a cidade vai resolver os acidentes envolvendo cães se nada mudar em relação ao comportamento dos tutores no tratamento com os animais.
Os seres humanos é que devem sempre ser responsabilizados nos casos de acidentes por falta de focinheiras, nos casos de abandono e crueldade com os animais.
O pitbull também é vítima.
E enquanto escrevo esse artigo, mais um caso de crueldade contra um pitbull acontece. O animal amarrado por fios e num cobertor é jogado vivo num valão por um homem em Bangu. Espero e cobro que esse agressor seja identificado e responda pelo crime.
Uma violência não justifica a outra. O pitbull não tem culpa! O animal não tem culpa. A culpa é humana.
A coleira e a focinheira são evidências incontestáveis do potencial perigo que esses animais representam para as pessoas. Qual o sentido, então, de se manter animais assim no meio de humanos? É pelo sadismo de amarrá-los e amordaçá-los, apenas para exibi-los, numa espécie de versão moderna de um show de feras? Parece que tem gente que procura problema!
Algum animal nasceu para ser mantido encoleirado e amordaçado? Ou é submetido a isso pela insensatez e crueldade dos humanos? Que espécie de prazer alguém pode ter com isso? Alguém que se diz “protetor” de animais defende coleiras e focinheiras, que tiram a liberdade do bicho e possivelmente até o machucam e incomodam?
Que discurso mais capenga! Quanta incoerência. Animais devem viver livremente na natureza, longe da interferência e dos instrumentos de doma dos humanos. Isso sim é defender animais!
Cachorros, de qualquer raça, são criações artificiais dos humanos, e não um produto da natureza. Não precisamos mais deles, exceto, talvez, para a função de cães farejadores. Assim, defendo que todos os cachorros e gatos domésticos sejam esterilizados, por força de lei, para que não mais se procriem e desapareçam com o tempo. A criação dos chamados “cães de raça” deve ser proibida, especialmente para fins comerciais. O mesmo vale para gatos e cavalos.