Drone é usado para a proteção de muriquis em Cachoeira de Macacu

Desde 2023, biólogos monitoram a população de muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), classificado como criticamente ameaçado pela IUCN

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Vem do céu o olhar que acompanha e protege uma espécie de primata que vive na região do Parque Estadual dos Três Picos, em Cachoeiras de Macacu (RJ). Desde 2023, biólogos monitoram a população de muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), classificado como criticamente ameaçado pela IUCN, utilizando um drone equipado com uma câmera sensível ao calor. Nas últimas semanas, pela primeira vez, o dispositivo conseguiu captar imagens de dois grupos de animais. A nova tecnologia está sendo usada pelos pesquisadores apoiados pelo Projeto Guapiaçu, realizado pela organização Ação Socioambiental, em parceria com a Petrobras.

Os avistamentos indicam que a espécie está presente na área e se reproduzindo, já que foram avistados fêmea com filhote e diversos animais jovens. Este trabalho de rastreamento gera informações fundamentais para a conservação dos muriquis como tamanho populacional, número de grupos sociais, dinâmica e uso do espaço”, explica Reginaldo Honorato, pesquisador de Biodiversidade do Caminho da Mata Atlântica, instituição que recebe apoio do Projeto Guapiaçu.

O primeiro avistamento na floresta ocorreu na manhã do dia 16 de julho. Pesquisadores caminhavam pelas trilhas da reserva, dentro do Parque Estadual dos Três Picos, no interior fluminense, quando encontraram pelo chão da floresta diversos restos de frutos e sementes, indicando que algum grupo estava por perto ou havia passado há pouco por ali. Diante das boas condições de tempo, o drone levantou voo e, por volta das 9h40, cerca de 12 muriquis foram localizados e as imagens de cinco deles, feitas. O segundo avistamento ocorreu no dia 12 de agosto, às 9h45. Uma dupla de pesquisadores escutou o barulho de galhos sendo torcidos no topo de uma trilha. Com o uso da aeronave, um grupo de seis animais, provavelmente jovens-adultos, foi localizado.

“Conforme novos avistamentos venham a ocorrer, poderemos responder a algumas questões-chave que envolvem a espécie, entender melhor suas interações com outros grupos de primatas, com o clima, com as estações e com diversos componentes florestais“, comemora Honorato.

O monitoramento dos muriquis na Reserva Ecológica Guapiaçu (Regua) e em outras partes do Parque Estadual dos Três Picos ocorre desde 2017. O uso de drone termal nas buscas, no entanto, foi iniciado apenas no ano passado por meio do Projeto Guapiaçu, com o objetivo de facilitar o acesso aos animais. A cada dia, a equipe de pesquisadores percorre por terra cerca de 16 quilômetros, realizando busca ativa nas trilhas da parte alta do parque. Ao encontrarem indícios da presença dos primatas, eles decolam a aeronave controlada de forma remota para tentar fazer imagens captadas com o calor do corpo dos animais.

O drone termal oferece uma vantagem significativa em relação ao equipamento convencional, já que a captura de imagens por infravermelho proporciona maior visibilidade na paisagem. Essa tecnologia se torna ainda mais eficaz em dias frios ou nublados, quando o contraste térmico entre o dossel (a cobertura formada pelas copas das árvores) e os animais presentes é acentuado, facilitando a detecção.

“O uso do drone equipado com câmera termal é revolucionário para o nosso trabalho porque nos ajuda a superar diversas barreiras. A busca tradicional feita pela equipe tem uma série de desafios, como a forte declividade dos terrenos onde os muriquis vivem e a necessidade de travessia de rios. Com o novo equipamento, ampliamos nossa área de atuação, entrando mais fundo na floresta“, afirma Gabriela Viana, presidente do Ação Socioambiental e coordenadora executiva do Projeto Guapiaçu, que promove a restauração florestal, o monitoramento de biodiversidade e a reintrodução de fauna nativa da região.

Muitas vezes, mesmo que nenhum indício da presença dos animais seja encontrado pelos pesquisadores durante as caminhadas, o dispositivo é acionado para ampliar a área da procura para além das trilhas pré-definidas. O uso deste equipamento permite que sejam acessados locais antes inatingíveis pelo método tradicional de monitoramento. A densidade florestal, no entanto, é um desafio para o equipamento que, muitas vezes, tem dificuldade para localizar o sinal de GPS, prejudicando a elevação da aeronave e gerando risco de colisão com árvores.

Lista Vermelha

O muriqui-do-sul, espécie endêmica da Mata Atlântica brasileira, é o maior dentre os primatas do continente americano, podendo pesar mais de 12 quilos e medir até 1,5 metro. Sua interação com o ecossistema onde vive, apontam os biólogos, é vital para a manutenção da flora já que é considerado um dos principais “restauradores da floresta”. Com uma alimentação baseada em frutos, folhas, cascas, flores, pólen e néctar, ele pode, em apenas um dia, dispersar sementes de diferentes tipos de plantas.

O muriqui, no entanto, está ameaçado e seu nome faz parte da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Os principais motivos para a redução da sua população são a destruição do seu habitat, a Serra do Mar entre o Norte do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e a caça. Especialistas calculam que existam atualmente apenas cerca de 1,2 mil indivíduos. O muriqui é uma das espécies consideradas alvo no Plano de Ação de Biodiversidade (PAB) do Polo Gaslub (antigo Complexo Petroquímico de Itaboraí da Petrobras), selecionada por estar ameaçada e desempenhar importantes funções ecológicas atuando como indicador da qualidade ambiental da Mata Atlântica.

“O muriqui é considerado uma espécie ‘guarda-chuva’, já que sua proteção acarreta um efeito cascata em outras dezenas de espécies. Proteger essas populações ajuda de forma direta a conservar outros grupos de fauna e flora”, explica Gabriela.

Projeto Guapiaçu

O Projeto Guapiaçu, realizado pelo Ação Socioambiental, com a parceria da Petrobras, tem como objetivo contribuir para a melhoria socioambiental da região da Baía de Guanabara e entorno, por meio de ações que integrem ambientes e comunidades locais, potencializando ações de restauração florestal, educação ambiental, monitoramento de biodiversidade e reintrodução de fauna nativa.

A área de abrangência do projeto insere os municípios de Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Magé, Itaboraí e Maricá, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que passa por grandes mudanças nas últimas décadas. Esta região hidrográfica é responsável pelo abastecimento de água de quase três milhões de pessoas na porção Leste da Baía de Guanabara.

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