Duas naturezas-mortas pintadas, em 1927, por Tarsila do Amaral nas paredes da sala de jantar da fazenda Santa Tereza do Alto, em Itupeva (SP), foram colocadas à venda, na Galeria Ricardo Camargo, no Jardim Paulistano, em São Paulo. Os afrescos, avaliados em R$ 7 milhões, são considerados precursores da fase mais valorizada da artista modernista pelo mercado de arte, pouco antes da produção dos trabalhos “Abaporu” e “Antropofagia”, seus maiores clássicos.
Os raros trabalhos foram colocados à venda pelo herdeiro do comprador da fazenda que pertenceu à família de Tarsila, que acabou vendendo a propriedade rural em vida. Para que os afrescos fossem colocados à venda, o herdeiro ordenou o retalhamento das peças em pedaços de alvenaria. Destino semelhante dos afrescos de Francisco de Goya: as famosas pinturas negras de sua Quinta del Sordo, nas quais o artista retrata um mundo pesadelar. A obra, hoje, está no Museu do Prado, em Madri.
As obras de Tarsila do Amaral são o extremo oposto de Goya, contando com muita vivacidade e exuberância. Segundo Silas Martí (Folha de São Paulo), em visita à fazenda de Tarsila, o também modernista Mário de Andrade registrou: “Na sala de jantar da pintora, essas naturezas-mortas se tornaram uma gostosura, uma delícia da gente olhar. Bananas, laranjas, abacaxis polpudos feito fruta do norte, apanhados na hora, no pomar da imaginação. Tem cheiro forte de terra e de flor. Uma delícia de moleza fazendeira”, disse Andrade em um artigo de revista reproduzido no catálogo raisonné de Tarsila, com a compilação de todas as suas obras. O catálogo reconhece a autenticidade das peças.
Em virtude de conflitos entre os herdeiros de Tarsila do Amaral, a autenticidade de algumas das suas peça têm sido questionada. Uma das dalas telas é reconhecida como verdadeira por um grupo de herdeiros e rechaçada por outro. Paulo Henrique Montenegro, atual inventariante do espólio, chancela o laudo, mas segundo Martí, sem nunca divulgá-lo na íntegra. O documento reconhece como autêntica a pintura atribuída à Tarsila, recém-chegada do Líbano. A obra foi apresentada em segredo na última feira SP-Arte e está à venda por R$ 60 milhões.
Há duas semanas, as desavenças entre familiares da artista levaram o leiloeiro James Lisboa a retirar oito trabalhos atribuídos à Tarsila de um pregão em São Paulo. Na ocasião, de acordo com Sila Martí, os dois grupos de herdeiros o teriam alertado, no dia da venda, que ele deveria pagar um percentual pelo lucro da venda a contas bancárias diferentes. Lisboa, no entanto, destacou que as obras nunca haviam sido comercializadas, por isso, são isentas do direito de sequência. Com a intercorrência, o leiloeiro estaria à frente de um boicote às vendas das obras de Tarsila do Amaral.