Ediel Ribeiro: Arataca

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o ‘Arataca’, que oferece cozinha paraense e muitas outras opções gastronômicas

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Outro dia, perguntei pro Jaguar, que era freguês assíduo do Arataca – boteco que ficava dentro do Cobal, no Leblon, frequentado por artistas e intelectuais: “Jaguar, é ‘o Cobal’ ou ‘a Cobal?”

E ele, didático: ‘é o Cobal mesmo; a Cobal é para comprar legumes’.

O velho editor do “Pasquim” sabia de tudo. Sabia, inclusive, que o ‘Arataca’ era o melhor boteco para se beber e jogar conversa fora, no Leblon.

Parei lá algumas vezes.

A história da casa, hoje já uma rede, começou com o piloto da Vasp Acir Rodrigues, um mineiro que de tanto voar para Belém acabou tomando gosto pela cozinha local e trouxe um pedaço do Pará para o Leblon.

Tudo começou com uma lojinha simpática na Rua Dias Ferreira, no Leblon. Ali nascia, em 1955, o ‘Arataca’. Duas lojas depois (uma no Leblon e outra em Copacabana), e o ex-piloto levou o Arataca para dentro do Cobal. Estourou.

Durante os anos 80 e 90, a simplória lojinha do mercado acabou virando palco de encontros antológicos. Nas mesas, montadas em frente a loja, reuniam-se Tom Jobim, Antonio Pedro, David Pinheiro, Peréio, Ziraldo, José Lewgoy, Ana Maria Magalhães, Jards Macalé, Paulo Casé, Antonio Torres, Chico Caruso, Abel Silva, Hugo Carvana, João Ubaldo Ribeiro e Luís Fernando Veríssimo, entre outros.

Quando não estavam do outro lado da rua, na Churrascaria Plataforma do amigo Alberico Campana – comerciante italiano que chegou ao Brasil em 1952 e começou a carreira como garçom no Beco das Garrafas, em Copacabana – Hugo Carvana e Tom Jobim estavam no Arataca; na onda dos dois, uma turma de artistas e intelectuais passaram a bater ponto lá.

O ‘Arataca’, juntamente com a ‘Churrascaria Plataforma’ e o bar ‘Universidade do Chopp’, também no Leblon, formavam o ‘Triângulo das Bermudas’, apelido dado por Tom Jobim a sua trinca de bares preferidos.

Jaguar chegou a desenhar uma camiseta em homenagem a turma com a seguinte inscrição: ‘O Pessoal do Cobal – Unidos Beberemos’. Outro que deixou sua marca no boteco foi o poeta da MPB Abel Silva, que, num dia inspirado, proferiu numa das mesas do Arataca a frase: “o bar é o descanso do lar”, que virou epígrafe de um dos livros do Jaguar.

O ‘Arataca’ – que no dicionário é armadilha para pegar animais silvestres – oferece, além da cozinha paraense, vatapá, bobó de camarão, sarapatel, buchada e casquinha de caranguejo. Tem também ótimas caninhas do Norte, Nordeste e Minas.

Criado, originalmente, para ser entreposto de distribuição de alimentos frescos – numa época em que ainda não haviam os grandes supermercados – hoje o Cobal é, na verdade, centros gastronômicos com vários bares e restaurantes, onde os cariocas de diversas idades se reúnem para beber e encontrar os amigos.

O Cobal, esteve ameaçado de fechar, mas continua resistindo, já o ‘Arataca’ (tem tempo que não apareço por lá) não sei se ainda resiste.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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