Ediel Ribeiro: Bolsonaro se auto-condecora a si mesmo

Cronista do DIÁRIO DO RIO brinca com a condecoração do presidente da República

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Foto: Reprodução Internet

Quando o secretário especial de Comunicação André de Souza Costa entrou no gabinete do presidente Jair Bolsonaro (sem partido e sem juízo), ele estava numa alegria só.

Curioso, com tamanha alegria, o secretário não se conteve:

– Desde a prisão do ex-presidente Lula não vejo o senhor tão feliz, presidente – comentou. – Qual o motivo de tanta alegria?

– Fui condecorado com a medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe de Grã-Cruz, a mais alta da comenda honorífica.

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– Que honra, presidente! Quem lhe concedeu tamanha honraria?

– Eu mesmo! Foi uma grande sacada, isso daí, né não?

O secretário coçou a cabeça e questionou:

– O senhor não acha no mínimo antiético, se auto homenagear? A Ordem Nacional do Mérito Científico é uma ordem honorífica concedida a personalidades brasileiras e estrangeiras como forma de reconhecimento por suas contribuições científicas e técnicas para o desenvolvimento da ciência no Brasil, quais foram as suas contribuições à ciência que justificaram a honraria? Ter nomeado o general Pazuello Ministro da Saúde? – ironizou o secretário.

– Eu precisava conceder a Medalha a uma personalidade que se destacou na área da ciência e não pensei em ninguém mais merecedor do que eu, taokey?

A homenagem, no entanto, não é inédita. Recentemente, em outro arroubo imperial, Bolsonaro indicou um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, cujos únicos méritos era ter fritado hambúrgueres em Nova York e ser amigo do filho do ex-presidente Trump, para o posto de embaixador brasileiro nos Estados Unidos.

O Secretário quis argumentar:

– O senhor não acha que anda exagerando? O capitão já condecorou seus filhos seis vezes, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, foi homenageado quatro vezes: com a Ordem do Mérito da Advocacia-Geral da União; a Ordem do Rio Branco; a Ordem do Mérito Naval e a Ordem do Mérito da Defesa.  Seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro recebeu duas condecorações: a Ordem do Rio Branco e a Ordem do Mérito Naval. O senhor também condecorou a primeira dama Michelle Bolsonaro com a medalha de Mérito Oswaldo Cruz e – dizem – tentou até condecorar seu cachorro.

– Qual o problema, no tocante a isso daí? O imperador romano, Júlio César nomeou Incitatus, seu cavalo preferido, para o cobiçado cargo de cônsul de Roma. Por que eu não posso nomear meu cachorro?

– O imperador Caio Júlio César Augusto Germânico foi um tirano louco que governou Roma na base do sangue. Não é de bom tom que o senhor seja comparado a ele. E depois, presidente, o governo já gastou R$ 1,6 milhão só no primeiro semestre de 2019, com a confecção de medalhas.

– As medalhas representam uma antiga tradição militar, uma forma de homenagear aqueles que se destacaram – disse Bolsonaro, tentando justificar.

– Por falar ‘naqueles que se destacaram’, parabéns por ter condecorado com a medalha de “Comendador” da Ordem Nacional de Mérito Científico, o médico Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, coordenador de uma pesquisa com superdosagem de cloroquina em Manaus, que resultou na morte de 11 pessoas e fez com que a aplicação do remédio na população fosse interrompida. Ele, sim, merece a condecoração.

– Merecia. Já mandei retirar a condecoração. A revogação do título foi comunicada em edição extra desta sexta-feira (5) do Diário Oficial da União – disse o mandatário.

– Mas, por que, presidente?

– Esse médico é um comunista. Como é que ele pode falar mal da cloroquina? Eu mesmo tomei e dei até pra ema lá do Palácio do Planalto. Nem eu nem ela pegamos a Covid.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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9 COMENTÁRIOS

  1. É lamentável, mas a ignorância aos fatos é muito triste. Há tantos assuntos para serem abordados com o intuito de ajudar o Brasil, mas se presta a postar bobagens

  2. Esse site, que até recentemente era apenas de mensagens positivas sobre a cidade do Rio de Janeiro, aos poucos mostra sua carinha militante de esquerda. Eu gostava das matérias de antes, que, ao contrário dos demais canais jornalísticos, não se mostrava partidário e tinha coisas legais e otimistas, mas, agora, é apenas mais um no meio dessa terrível, insana e cega mídia militante.

    Espero que os chefes desse canal midiático estejam atentos a isso e percebam enquanto há tempo que a MAIORIA da população não é imbecil e sabe bem as mentiras que 99% da mídia atual conta e não se deixará levar por essa tolice. No mais, se continuar assim, irei deixar de seguir o site e não mais entrarei aqui para ler quaisquer matéria do Diário do Porto!

  3. Qualquer pessoa HONESTA e BEM-INTENCIONADA sabe que não é verdade o motivo do deboche acima plasmado.

    Conforme o artigo 3º do Decreto nº 8.556, de 11 de novembro de 2015, assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o presidente da República é o grão-mestre da Ordem, e o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, o seu chanceler.

    A Ordem Nacional do Mérito Científico tem duas classes de condecoração: a da Grã-Cruz, que tem 500 vagas, e a de Comendador, com 800 vagas. No decreto recém-publicado, Bolsonaro nomeou 28 pessoas para a primeira classe e dez para a segunda. Por serem o grão-mestre e o chanceler, Pontes e Bolsonaro fazem parte, automaticamente, da classe da Grã-Cruz.

    Inté!

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