Ediel Ribeiro: Do baixo clero a presidente da República

Mais uma crítica bem humorada do colunista do DIÁRIO DO RIO

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Pouca gente sabe, mas a história da eleição de Jair Bolsonaro para Presidente da República, começou mais ou menos assim:

Em uma reunião no Clube Militar do Rio de Janeiro – o bunker do conservadorismo no país -, meia dúzia de oficiais com idade provecta se reuniram para tomar chá com torradas e decidir quem seria o candidato da extrema direita para concorrer ao posto de Presidente da República, nas eleições de 2018.

Um dos porta-vozes pediu a palavra:

– Precisamos de um candidato que lute pelos nossos direitos e garanta o nosso futuro… cof!, cof! cof! – disse um general, de 99 anos, antes de perder a dentadura.

– Precisa ser alguém que tenha servido às Forças Armadas. Alguém manipulável. Não precisa ser muito inteligente. Aliás, quanto mais idiota, melhor. Tem que ser meio louco para enfrentar o TSE, e que tenha tempo livre para o ofício – disse outro general.

– De preferência que tenha simpatia pelos presidentes Trump e Putin – gaguejou outro general.

– Os militares tiveram certa dificuldade para encontrar um militar com aquele perfil. Descobriram um cabo do Exército, especialista em pintura de meio-fio e com baixos padrões cognitivos. Mas houve resistência entre os generais.

– Um cabo não teria voto nem apoio do povo para comandar a nação. Vejam o exemplo do Cabo Daciolo… Precisamos de alguém de alta patente. Um general, um capitão ou, quem sabe, até um tenente – disse outro general, batendo com a bengala na mesa.

Os milicos já estavam quase desistindo. Alguns, já tinham até caido no sono, quando, de repente, o telefone tocou.

– General, encontrei o nosso homem – disse, do outro lado da linha, um militar que bate ponto na Câmara dos Deputados.

– Ele está aí?

– Está – respondeu o general.

– Certamente deve estar na tribuna defendendo alguma Lei ou apresentando algum projeto, certo?

– Não, general, ele está dormindo. E babando.

– Dormindo!? Durante uma sessão na Câmara dos Deputados?!

– Ele sempre faz isso. Mas ninguém se importa, ele até hoje apresentou apenas dois ou três projetos. A maioria deles relacionada às causas militares, entre elas a gratuidade de transporte público para ex-combatentes, o uso dos imóveis militares e regras para reajustes dos soldos. Só teve um aprovado. Geralmente, só dorme mesmo. É um deputado do ‘Baixo Clero’.

– Ele é militar?

– Ex. Foi expulso do Exército aos 33 anos, por insanidade.

– Já sei, um deputado de primeiro mandato, certo?

– Não, general, ele tem 30 anos de vida pública!!

– Qual o nome dele?

– Jair Messias Bolsonaro.

– Perfeito! É o nosso Messias! O único e verdadeiro salvador do Brasil!

Os integrantes do Clube Militar fazem parte do time de Luiz Eduardo Ramos, Eduardo Pazuello, Marcos Pontes, Braga Neto, Heleno e outros fardados que veem Bolsonaro como um iluminado.

E talvez seja mesmo. Ao menos alguns milagres ele já operou: no mais incrível deles, sobreviveu a uma facada que lhe abriu a barriga sem derramar uma gota de sangue.

Mas isso, claro, é ‘fichinha’ perto dos milagres operados pelo Messias na economia, na saúde, na educação e na cultura: por exemplo, Bolsonaro transformou a classe média em pobres; os pobres em miseráveis; os miseráveis em invisíveis; sonegou a vacina à população; transformou a cultura em pó; reduziu a educação a meia dúzia de escolas militares; transformou em motivo de chacota instituições centenárias como os militares e os evangélicos; levou de volta o Brasil ao FMI; despencou o país dá 6ª para 13ª economia do mundo; transformou o nosso PIB no menor do mundo; a nossa gasolina na mais cara do planeta; elevou o preço do botijão de gás a 120 reais… Tudo isso, em apenas 3 anos.

Por fim, o milagre supremo: Messias (como Jesus fez com o pão) repartiu o osso para mais de 14 milhões de desempregados no país.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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