Todos que, como eu, já subiram a Ladeira Saint Roman, na zona sul carioca, em direção à sede do “O Pasquim”, já esbarraram, na entrada, com a figura de uma senhora carismática, e
extremamente simpática.
Era Dona Nelma.
Nelma Correia Quadros, ou simplesmente Nelma Quadros, era a secretária de redação de “O Pasquim”. Na verdade, mais do que secretária: era timoneira, administradora, confidente e conselheira.
Era quem organizava o caos que reinava na sede do jornaleco.
Sempre citada nas crônicas feitas pela turma que reunia Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Nani, Ivan Lessa, Henfil e Sérgio Cabral, Dona Nelma era o anjo da guarda dos criadores do genial hebdomadário.
Nascida no bairro de São Gonçalo – Niterói, Rio de Janeiro – no dia 6 de julho de 1935, Dona Nelma era apaixonada pelo Brizola. Uma das fundadoras do PDT, foi ela quem apresentou Jaguar ao ex-governador do Rio.
Sofreu, junto com toda a turma, os perrengues da ditadura.
No auge da perseguição à imprensa, “O Pasquim” recebeu uma carta igualzinha àquela que a dona Lida, secretária do presidente da OAB, em 1980, abriu e explodiu na cara dela – dona Lida morreu no atentado. Mas, como no dia, não havia ninguém na redação, Dona Nelma guardou em uma gaveta. Trinta dias depois, o troço explodiu sozinho.
Recentemente, Dona Nelma voltou a ser notícia – desta vez, por motivos não tão nobres. Investigadores da Lava-jato descobriram que Sérgio Cabral, o filho, usou, durante uma década, ao longo de seus dois mandatos no governo do Rio, o codinome Nelma para se comunicar, clandestinamente, com seus colaboradores.
As investigações descobriram que o telefone registrado em nome de Nelma era, na verdade, do próprio Cabral.
O ex-governador combinava pagamentos de propinas e, também, viagens a Paris e outros compromissos, usando o nome da lendária secretária de ‘O Pasquim’.
A personagem, inventada e jogada na lama pelo então governador, não poupou sequer a imagem do pai – um dos fundadores, junto com Jaguar e Tarso de Castro, do tablóide.
Dona Nelma – a original – segurou o tranco por longos anos à frente do “O Pasquim”, até que jogou a toalha.
Nada risível, só triste – notadamente sua morte, em 7 de março de 1991, de tétano, no Rio de Janeiro.