Ediel Ribeiro: Lailson, um gênio do texto e do traço

Morre, aos 68 anos, o cartunista Lailson de Holanda

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Lailson de Holanda Cavalcanti fez parte de um grupo seleto de cartunistas intelectuais do nordeste.

Conheci Lailson quando ele publicava seus cartuns em ‘O Pasquim’. Na época, o tablóide carioca publicava uma página do ‘Papa-Figo’, ‘O Pasquim do Recife’, onde Lailson colaborava.

Em novembro de 1992, Lailson publicou, sem cobrar nada, uma caricatura do ex-presidente Collor de Melo, vestido de noiva no ‘Cartoon’, um jornalzinho de humor que eu editava.

Cartunista, chargista, jornalista, escritor, autor de quadrinhos, músico, compositor e pesquisador de humor gráfico, nascido em 26 de dezembro de 1952, em Recife, Pernambuco.

Ainda jovem foi morar nos Estados Unidos onde começou a publicar seus desenhos, em 1971, aos 19 anos. Recebeu o Award for Best Original Artwork, da Arkansas High School Press Association, por uma charge publicada no jornal ‘The Pine Cone’, editado pela Pine Bluff High School.

De volta ao Brasil, estreou na imprensa pernambucana em 1975, no ‘Jornal da Cidade’.

Em 1980, Lailson lançou, junto com os cartunistas Clériston e Humberto o jornal ‘Folhetim Humorial’ que teve vida breve e encerrou a circulação depois de apenas quatro meses de circulação.

O cartunista foi membro fundador da Associação dos Cartunistas do Brasil e membro fundador e primeiro presidente (2001/2004) da Associação dos Cartunistas de Pernambuco – ACAPE.

Lailson também marcou a história da música pernambucana. Foi um dos líderes do movimento musical pernambucano no início dos anos 70. Em 1973, gravou com o músico Lula Côrtes o disco instrumental ‘Satwa’. Raridade, o álbum é considerado entre colecionadores o marco inicial da psicodelia pernambucana.

Do seminal ‘Satwa’, surgiu a idéia do álbum ‘Paêbirú’, de 1975, o disco maldito de Lula Côrtes e Zé Ramalho, hoje o vinil mais caro do Brasil.

Em 1989, Lailson participou da banda anárquico-satírico-musical ‘Pão Com Banha’, que se apresentava na ‘Livro 7’, lendária livraria de Recife. Segundo o Livro Guinness dos Recordes, a livraria ‘Livro 7’ foi a maior livraria do Brasil. Não era apenas uma livraria, era também o ponto de encontro de toda a cultura pernambucana daqueles tempos. Tarcísio Pereira, o dono, foi um mecenas e um incentivador da vanguarda artística e cultural de Pernambuco. Lailson fez lá memoráveis shows com a banda satírica ‘ão com Banha’, composta por ele, José Teles, Bione e Clériston Andrade.

Autor de mais de uma dezena de livros publicados no Brasil e na Espanha, o cartunista publicou, entre outros ‘O Que Vier eu Traço’ (1981); ‘Democracia pra mim é grego’ (charges) (1983); ‘Esta Vida é um Circo’ (1989); ‘Cartas de Pindorama – charges e quadrinhos’ (1989); ‘Humor Diário’ (1997); ‘Retrato Oficial: 25 anos de charges’ (2002) e ‘O Livro do Bom Humor’ (2005) e ‘Historia Del Humor Gráfico em el Brasil’ (2005), entre outros.

É co-autor de vários outros como ‘Machado de Assis Atemporal’ (2012), ‘Poder, Sociabilidade, Ambiente’ (2012). e ‘O Que é Humor Gráfico’ (2013). Sendo inclusive autor de adaptações de clássicos da literatura portuguesa e brasileira para os quadrinhos. Entre eles, O Alienista, versão em HQ do clássico de Machado de Assis. Graphic Novel que foi adaptado também, em 2007, pelos irmão Fábio Moon e Gabriel Bá e foi inspiração ou tentação para desenhistas, escritores e cineastas.

Que me lembre, Nelson Pereira dos Santos adaptou-a para o longa-metragem ‘Um Asylo Muito Louco’ e Jorge Laclette transformou-a em peça de teatro.

Ativo participante do movimento de quadrinhos e Humor Gráfico de Pernambuco, foi o criador de vários salões, seminários e festivais de humor e quadrinhos. Foi curador do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco, desde sua criação em 1999 até o ano de 2005. Lailson foi também o criador e curador do Salão Nacional de Humor de Pernambuco (1983-1984); Festival de Humor do Recife (1986) e do Salão de Humor da Imprensa (1991), entre outros.

Participou, junto com Bione, Ral, Clériston e Teles, da página semanal de humor “Papa-Figo” publicada no ‘Jornal da Semana’, em 1975.

Publicou por 27 anos uma charge diária no tradicional jornal ‘Diário de Pernambuco’. Seus trabalhos foram publicados em diversas revistas e jornais no Brasil e no exterior, como: ‘O Pasquim’, ‘Cartoon’ e nas revistas ‘Bundas’, ‘Visão’, ‘Palavra’, ‘Mad’, ‘Florida Review’ e ‘O Europeu’.

Suas charges foram distribuídas mundialmente pela agência internacional Cagle Cartoons, tendo publicado nos jornais e revistas ‘The Guardian’, ‘Der Stern’, ‘Slate/MSNBC’ e ‘Miami Herald’, entre outros.

Vencedor de cinco Prêmios HQMix e de diversos Salões de humor no Brasil e no exterior.

Conheceu a esposa Sílvia em 1968, quando tinha quinze anos e ela catorze. Viveram juntos até seus últimos dias.

Hoje, Lailson nos deixou, vítima da Covid-19, aos 68 anos. Uma grande perda. Um grande artista. Vai fazer muita falta.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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