Ediel Ribeiro: Largo do Boticário, charme e história

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o Largo do Boticário, considerado um dos mais belos cartões postais da Cidade Maravilhosa

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Foto: Reprodução

Apenas sete casas da rua Cosme Velho, 822, compõem o Largo do Boticário, um dos mais belos cartões postais do Rio de Janeiro. Encravado aos pés do Corcovado e no coração do Cosme Velho – bairro cujo nome se origina de um dos primeiros moradores da região, o comerciante Cosme Velho Pereira, estabelecido na Rua da Direita, hoje Primeiro de Março – o local é muito procurado por turistas e moradores do Rio de Janeiro.

Após a morte do comerciante, em princípios do século XIX, a chácara foi dividida em terrenos menores pela nobreza da época. Um dos nobres a se estabelecerem no local foi o sargento-mor da Colônia, Joaquim da Silva Souto, militar reformado famoso pelo preparo de ungüentos e xaropes e, por isso, conhecido como ”boticário”. Amigo da Família Imperial, por causa dele, em 1831, o lugar foi nomeado Largo do Boticário.

Banhado pelo Rio Carioca, este pequeno largo, quase escondido no Cosme Velho e cercado pela mata atlântica, é um dos lugares mais bonitos e charmosos do Rio. São casas coloridas, em estilo neocolonial, com telhões pintados a mão em porcelana de Delft, azulejos portugueses, mármores Lioz, calçamento estilo pé-de-moleque e árvores centenárias que transmitem uma sensação de calma e tranquilidade.

O casario tem projeto arquitetônico de Lucio Costa, jardins de Burle Marx e como quintal, parte da Floresta da Tijuca, onde há diversas espécies raras da Mata Atlântica e onde havia, originalmente, uma fonte d’água do século 19. A primeira casa, hoje de número 32, foi construída em 1846, pelo Marechal Joaquim Alberto de Souza da Silveira, que trabalhou para o Imperador Dom Pedro II e era o padrinho de Machado de Assis.

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Nos anos 20, o empresário Edmundo Bittencourt, fundador do jornal ”Correio da Manhã” – um periódico brasileiro, que em sua primeira fase foi publicado no Rio de Janeiro, entre 15 de junho de 1901 a 8 de julho de 1974 – comprou os terrenos disponíveis e resolveu ali construir as primeiras casas em estilo neocolonial, mudando a paisagem do Largo. O arquiteto Lúcio Costa projetou a unificação das casas 20 e 22, transformadas em uma mansão da família Bittencourt. Outro morador ilustre foi o pintor Augusto Rodrigues. O artista foi um dos personagens mais importantes na história do lugar. Morador da antiga casa 1, Rodrigues lutou até sua morte pela preservação e tombamento do casario.

Outro dono foi Rodolfo Gonçalves de Siqueira, o Ruddy, colecionador e diplomata, que mudou-se para lá nos anos 30. A partir de 1942, essa casa pertenceu a Magu Leão, muito culta, amiga de vários artistas e intelectuais, como Burle Marx, Oscar Niemeyer, Candido Portinari, Manuel Bandeira, Lucio Costa, José Lins do Rego, Tarsila do Amaral, Le Corbusier, Bruno Giorgio e a crítica teatral Bárbara Heliodora.

Na época, o largo era um lugar bucólico, um espaço de beleza e charme. Foi morada de artistas plásticos, intelectuais, estrangeiros, cariocas cultores do belo e da boa arte, além de palco de festas memoráveis num tempo de requinte e glamour quando o Rio era capital do Brasil e sede de embaixadas do mundo todo. Entre as grandes festas estão o jantar black-tie que Beki e Vanda Klabin ofereceram para Charles Aznavour e as reuniões com artistas e intelectuais, na casa do pintor Augusto Rodrigues.

Em 1973 o lugar serviu de cenário para a chamada de fim de ano da TV Globo e, em 1979, foi escolhido como um dos cenários do filme do agente secreto James Bond, ”007 Contra o Foguete da Morte”, com Roger Moore. Em 1986, o Largo foi declarado área de proteção ambiental e Cultural do Cosme Velho e, em 1990, esses imóveis foram tombados pelo INEPAC.

Sylvia Bittencourt era a proprietária das sete casas tombadas, que foram vendidas e recuperadas pela rede de hotéis Accor, que transformou o local em uma unidade do ”Jo&Joe”, um hostel da marca, com sedes no Rio de Janeiro; em Hossegor, na costa de Landes; em Viena, capital austríaca; em Medellín e duas unidades em Paris.

Segundo a historiadora Vanda Klabin, Sylvia – a primeira jornalista brasileira a receber o prêmio ‘Maria Moors Cabot’ como correspondente de guerra da United Press – é a autora da antiga placa de bronze no centro do Largo do Boticário, onde escreveu: ”Vós, que morais neste recanto, sob a bênção da água e do silêncio, lembrai-vos que de vós depende o encanto daqui”.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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