Ediel Ribeiro: Nilton Bravo, o Michelangelo dos botequins

Eu tinha um bar na Praça da Harmonia, na Gamboa, que tinha uma pintura do Nilton Bravo na parede

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Jaguar era editor do jornal “A Notícia” onde escrevia uma coluna chamada “Conversa de Botequim”, que acabou quando o jornal fechou – infelizmente – deixando muitos frequentadores de botecos sem as deliciosas dicas que o cartunista costumava dar. 

Era na coluna –  a primeira seção que eu lia – que o Jaguar na sua ‘Busca Insaciável do Prazer’ (B.I.P) dava as dicas dos melhores pés-sujos da cidade.

Jaguar, pasmem, dedicava seu tempo a percorrer a área em torno da Central do Brasil, conhecida como Bangladesh, na tentativa de localizar botecos que tivessem painéis de Nilton Bravo nas paredes.

Eu tinha um bar na Praça da Harmonia, na Gamboa, que tinha uma pintura do Nilton Bravo na parede. Foi lá que conheci o Jaguar.

Nos anos 60, dois em cada três bares naquela área eram decorados com as obras do artista. 

Hoje, Jaguar não bebe mais e, que eu saiba, poucos bares do Rio ainda tem essas obras, entre eles: O Adega Flor de Coimbra, na Lapa. 

O maior pintor brasileiro, Cândido Portinari,  morou no sobrado em cima da Adega Flor de Coimbra, que antes era uma mercearia. Da última vez em que estive lá, o mural de Nilton Bravo ainda estava lá, à direita de quem entra, e no cardápio ainda constava o aviso: “aqui é proibido beijos ousados”. 

O pintor Nilton Bravo, que ganhou do escritor Carlos Heitor Cony o epíteto de “O Michelangelo dos Botequins”, começou a pintar ainda criança com o pai Lino Bravo (1899-1966) com quem aprendeu as técnicas de pintura.

Pintou mais de dois mil painéis em botequins da cidade do Rio de Janeiro; principalmente no Centro, Zona Portuária, Zona Sul e no subúrbio. 

Como Michelângelo, Bravo tinha seu mundo. O botequim era a sua Capela Sistina. Em vez do Papa, quem lhe dava ordens era o dono do bar: “Bota um barquinho ali no canto”. Ele botava – disse Carlos Heitor Cony, em sua coluna no jornal “Folha de São Paulo”.

Em 1986, 0 Prefeito Saturnino Braga decidiu tombar os painéis do artista, mas pouco fez de concreto, e, na prática, apenas a pintura do Bar Sulista, na Gamboa, na época, foi tombado.

Agora, um decreto assinado pelo prefeito Marcelo Crivella, tombou provisoriamente oito pinturas a óleo dos artistas Lino Bravo e Nilton Bravo que ainda estão penduradas nas paredes de tradicionais bares e botecos da cidade. 

Os painéis do artista já dominaram os botequins na cidade, mas, em 2016, restavam apenas 17 exemplares. As pinturas, sempre com ar bucólico, já foram símbolo de status para os estabelecimentos comerciais no passado. Hoje, os murais de Nilton Bravo são como o ovo cor-de-rosa ou a serragem no chão; itens da carioquice que desapareceram dos bares.

Na década de 80, Nilton Bravo deixou de pintar painéis para se dedicar às telas, que expunha em galerias de arte gozando do sucesso e a popularidade que alcançou com seus murais espalhados pela cidade.

O último painel de botequim pintado pelo artista foi o do Belmonte, em Copacabana, pintado em 2005, no ano de sua morte. 

Nilton Bravo chegou a ocupar a cadeira de número 40 da Academia de Belas Artes.

“Entre os cariocas, seus painéis são mais conhecidos do que qualquer quadro de Picasso ou Van Gogh”. – escreveu Nelson Motta,  em sua coluna no Jornal do Brasil, em julho de 1967.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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