Ediel Ribeiro: O adeus a Paulo Caruso

Colunista do DIÁRIO DO RIO opina sobre Paulo Caruso, um dos principais cartunistas da história do Brasil, falecido no último sábado (04/03)

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Paulo Caruso atuando no programa ''Roda Viva'', da ''TV Cultura'' - Foto: Reprodução

Estive várias vezes com Paulo Caruso. Ou foi com o Chico? Sei lá! Os dois se parecem pra cacete. Gêmeos univitelinos, os dois eram iguais em quase tudo. Na aparência, no humor, no talento. Até o timbre de voz era idêntico.

Uma vez, estive com ele em um dos shows da banda ”Muda Brasil Tancredo Jazz Band” – que contava com as participações do irmão Chico Caruso, Cláudio Paiva, Aroeira, Mariano, Luis Fernando Veríssimo e Reinaldo, entre outros – , nos jardins do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.

Logo que o vi, fui cumprimentá-lo: ”E aí, Paulo, tudo bem?”, disse, estendendo a mão. E ele, sério: ”Eu sou o Chico”.

Diante da minha cara de babaca, ele concluiu: ”Tô brincando, eu sou o Paulo. Mas pode me chamar de Chico”, disse, com sua voz de locutor de rádio.

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Paulo José de Hespanha Caruso nasceu em São Paulo SP, em 1949. Foi caricaturista, quadrinista, ilustrador, chargista e músico. Era formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP, mas não seguiu na profissão.

Começou a carreira de cartunista no jornal ”Diário Popular”, no final da década de 1960. Colaborou com os jornais ”Folha de S.Paulo”, ”O Pasquim”, ”Cartoon” e ”Movimento”. Com a chegada do AI-5, em dezembro de 1968, abandonou as charges e passou a publicar ilustrações e a tira ”Pô”, no jornal ”Folha da Tarde”.

Nos anos 1980, voltou à grande imprensa, passando pelas revistas ”Veja”, ”Isto É”, ”Careta” e ”Senhor”. Em 1981, com Alex Solnik, publicou a página de humor ”Bar Brasil”, na revista ”Careta”, que nos anos seguintes, transferiu-se para a revista ”Senhor”.

A partir de 1988 – e por mais de 25 anos – publicou na revista ”Isto É”, a charge da semana com o título Avenida Brasil, na última página da revista, ilustrando com sátira e humor vários momentos da história política do país.

”Avenida Brasil”, seu trabalho mais conhecido, acabou migrando para o ”Jornal do Brasil” e algumas edições de mais sucesso foram reunidas em um livro. Seus trabalhos também aparecem em publicações especializadas em quadrinhos como ”Circo”, ”Chiclete com Banana” e ”Geraldão” ao lado de grandes nomes dos quadrinhos, como Chico, Angeli, Laerte e Luiz Gê.

Paulo Caruso também trabalhou na TV. Fazia caricaturas ao vivo no programa semanal ”Roda Viva”, na ”TV Cultura”. Caruso dedicava-se também à composição musical e à produção de espetáculos de música e teatro.

Em 1985, durante o Salão Internacional de Humor de Piracicaba, Paulo formou com Chico e outros cartunistas a ”Muda Brasil Tancredo Jazz Band”. Nos shows, a banda interpretava músicas de cunho humorístico e com sátira política.

Em 1998, lançou o CD ”Pra seu Governo”. Entre os livros publicados destacam-se: ”As Origens do Capitão Bandeira” (1983); ”Ecos do Ipiranga” (1984); ”Bar Brasil” (1985); ”São Paulo por Paulo Caruso – Um Olhar Bem-Humorado sobre esta Cidade’‘ (2004) e ”Desenhando Longe – a Copa de 94” (2015).

Paulo Caruso é pai do cineasta Paulinho Caruso e tio do humorista Fernando Caruso. O artista morreu na manhã deste sábado (04/03), aos 73 anos, por complicações de um câncer de intestino. Siga em paz, amigo.

*Ediel Ribeiro é jornalista, cartunista e escritor*.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"
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