O “Cartoon”, um tabloide de humor, lançado por mim, no início dos anos 90, foi um negócio de doido.
Em todos os sentidos.
Eu tinha um bar na Lapa. “Retiro dos Artistas” (Rua do Lavradio, esquina com Rua do Riachuelo), frequentado por artistas, boêmios, jornalistas, prostitutas e travestis.
A freguesia não era lá essas coisas, mas a vizinhança era boa.
Jaguar, cronista do jornal “O Dia”, morava num apart-hotel, ao lado e, às vezes, passava pra tomar uma; Danilo Alvim, o “Principe Danilo”, jogador do Vasco, morava alí perto e almoçava lá. Oswaldo Nunes, compositor do Bafo da Onça, também.
O sambista, autor de “Oba’, de 1962, que acabou virando hino do Bloco, morava num prédio em frente, onde, aliás, foi assassinado, vítima de homofobia.
Eu vendi o bar pra fazer o jornal.
Eu editava, escrevia, ilustrava e ainda varria a redação, que, segundo alguns difamadores, era o que eu fazia de melhor.
Guardada as proporções, o “Cartoon” foi como o “Pif Paf “, do Millôr Fernandes. Saíram só cinco números.
Era um jornal meio amador, não tinha retorno financeiro, periodicidade, publicidade… fazíamos pelo prazer. Ninguém ganhava nada!
A coisa era tão desorganizada, que nem eu tenho os cinco números que saíram. Tenho quatro, mesmo assim, porque recebi de presente do amigo Ferreth, que comprava numa banca em Copacabana.
Os primeiros três números foram bem. Pudera! “O Pasquim” havia fechado e não havia nenhum jornal de humor na época.
Aliás, havia “O Planeta Diário”, que apesar de ser feito por cartunistas, não publicava cartuns.
O jornal publicou muita gente nova e boa. Alvim, que depois foi pro “Jornal dos Sport”; Netto, um rapaz de Niterói que publicou no “O Fluminense”; Ferreth e Ykenga do “O Dia”; Fred e William, cartunistas da Paraíba; Aragão e Celim de Minas Gerais; Amorim, do Rio de Janeiro e Gonzalo Cárcamo, um cartunista chileno que veio trabalhar no Brasil e hoje pinta aquarelas e mora em São Paulo.
Além dos consagrados Nani, Chico Caruso, Jaguar, Ziraldo e outros, que gentilmente colaboravam, sem ganhar nada.
Outros, a gente “chupava” dos jornalões.
Depois que fechávamos o jornal, nos reuníamos no Capela, um bar alí perto, pra comemorar.
Por falta de publicidade, o jornal fechou.
Não ganhei nada. Mas me diverti pra cacete.