Ediel Ribeiro: O Rubro Negro Garrincha

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o que Zico e Garrincha tinham em comum, além da genialidade com a bola nos pés

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O que tinham em comum Zico e Garrincha, além da genialidade com a bola nos pés?

Ambos eram rubro negros de coração.

Confesso, não sabia. 

A revelação foi feita pelo escritor e jornalista Ruy Castro, em seu livro “Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha”, 1995 (Editora Companhia das Letras). 

Ruy Castro ouviu de Rosa, irmã mais velha do jogador, que o menino Garrincha tinha uma camisa do Flamengo que adorava e levava dias sem tirá-la.

Para mim, era impossível imaginar que no peito do maior ídolo botafoguense – segundo jogador que mais vestiu a camisa alvinegra e terceiro maior artilheiro do clube de Marechal Hermes, responsável por inúmeras conquistas – pudesse bater um coração rubro-negro.

Todas as glórias de Garrincha em clubes se deu no Botafogo de Futebol e Regatas, entre 1953 e 1965, na companhia de outros craques como Didi e Nilton Santos. Daí minha desconfiança.

Mas, até Elza Soares, mulher e grande amor da vida do jogador, quando questionada por um jornalista sobre qual o time de coração do craque das pernas tortas, não hesitou: “Flamengo”.

Em uma excelente crônica no jornal “Folha de São Paulo”, Ruy Castro, biógrafo de Garrincha, no entanto, redime o jogador:

“Mas não há razão para mágoa” – escreve Ruy. “ Pelo Botafogo, Garrincha enfrentou o Flamengo 38 vezes. Ganhou 15, perdeu 12 e empatou 11, boa média, e marcou 12 gols, alguns decisivos – dois dos quais no 3X0 de 1962 sobre o rival, que deu o bicampeonato carioca ao Botafogo.

E há outro motivo para minimizar a suposta torcida de seu ídolo pelo odiado Flamengo: Garrincha não ligava para futebol.

Nunca ia aos estádios, exceto para jogar, e não seguia jogos pelo rádio ou TV. Quando o Brasil perdeu a Copa de 50 para o Uruguai e ele viu as pessoas chorando, comentou: ‘Que bobagem, chorar por causa de futebol’. O futebol, para ele, era a bola em seus pés – nem pensar em dar combate a um adversário. A graça estava no drible, no gol e, em terceiro plano, na vitória. A rigor, não era um torcedor.

Ah, sim, aos 36 anos, em 1969, Garrincha foi jogar no Flamengo.

Mas ali, não era mais Garrincha.”

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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